AMOR AO DESTINO
Fiquei irritado com a
alvura da pele de Fernanda.
Ela teve horror da
minha, encardida.
Seus cabelos anelados
me deram náusea.
Ela teve nojo dos
meus, sem corte definido.
Achei péssima a sua
dicção – sobretudo com aparelho.
Péssima pra ela era a
minha: clara, metálica, decisiva.
Sua boca sem
contorno, nem sangue nem batom, reprovei.
Ela reprovou a minha,
média, trágica, expressiva.
A voz, de uma
fragilidade clássica, era sofrível.
A minha – o timbre da
independência, a extensão – a desafiava.
Seus olhos arqueados
à fronte; felinos, acinzentados – mórbidos.
Os meus, no seu
olhar, um problema insolúvel, intransponível.
Ela muda,
ensimesmada.
Eu falante incurável.
Alta, acidentalmente,
altamente européia.
Eu na estatura
tropical mesma.
Em suma, tínhamos
tudo para sermos felizes:
Pois acabo de
descrever o ódio à primeira vista
Que
sentimos eu e Fernanda.