domingo, 26 de janeiro de 2014

João Rosa de Castro - Flores do Pântano

ANDAR COM FÉ EU VOU
                                     (a Stanislaus)

Meus deuses são os amigos
Que abraço com mansidão.
A fé que tenho os nomeia:
Divindades minhas e anjos.
Minha reza é a lembrança deles,
Cada um com sua epifania,
Os frutos que sabem plantar,
As flores que sabem regar.

Meus deuses: amigos que ouvem
E entendem a unidade,
Por isso reservam o silêncio
Ou o conselho mais vivo.

Me protegem e são protegidos
Por mim que os bendigo e adoro.

Meus deuses: amigos que falam,
Me contam que são felizes
Ou tristes e sem esperança,
Mas dizem porque eu ouço
Com brilho nos olhos ou pesar.

O mundo é um grande Olimpo
De deuses que se comunicam.

Meus deuses são os amigos,
A quem presto a minha devoção.

domingo, 19 de janeiro de 2014

João Rosa de Castro - Flores do Pântano

SINAL FECHADO

O brasilzinho inda cresce, Paulinho.
Porque dançamos acima da sucata,
Elaboramos sonetos em cima da parafernália.
O brasilzinho inda cresce, Paulinho.
Com todo o medo que encerra o nosso peito.
O temor disfarçando a nossa própria divindade.
Deuses vivos a caminho dum Olimpo inda mais alto.
Sim, com um samba assim, Paulinho.
Cheio de vontade,
Cheio de firmeza,
Cheio de uma tristeza alegre.
A lama nos vãos dos dedos,
A flama aquecendo os tons das mentes.
Você sozinho no palco,
Cinco minutos que seja,
Para libertar os espíritos do vácuo.
A contabilidade na memória,
Com os preservativos de baixa qualidade.
O maravilhoso hotel saiu irracionalmente do festival,
E irracionalmente permanece o sonhador.
Mas o brasilzinho inda cresce, Paulinho.
Apesar de tanto eufemismo qual botão que não desabrocha.
Apesar do pudor inexplicável das cabeças mais práticas,
Peitos cansados de sentir.
Muita saúva e pouca saúde, sabe, Paulinho?
Eu ficaria menos pobre, Paulinho, se pudesse passar uma tarde com você num botequim perto da praia.
Porque sua fala se harmoniza com o mar.

domingo, 12 de janeiro de 2014

João Rosa de Castro - Flores do Pântano

LOUMENES

Me desligo de você
Como a criança depois do parto.
Pronto para formar um olhar novo.
Para um novo amor.

Me desligo de você,
Como as rochas que caem das montanhas,
Desperto para cada eco que meu sentimento possa causar.
Observando as pessoas suspeitas de serem livres.

Nunca mais as suas amarras,
Nunca mais o seu silêncio absurdo,
Nunca mais o seu descaso
Vão mover em mim pensamentos.

Me desligo de você,
Como quem abandona uma cidade infecta.
Deixando anos de lembranças,
Escritas num baú empoeirado.
Fingindo que cada canção é nova
E que me conecta apenas a quem estiver ao meu lado.

Me desligo de você,
Como um guerreiro vencedor,
Que retorna a casa,
E traga de um só gole

O amargo vinho do vencido.

domingo, 5 de janeiro de 2014

João Rosa de Castro - Flores do Pântano

MIRAGENS TEUTÔNICAS

Há uma vibração no seu toque,
Como que uma mensagem longa
De que eu posso ser amado.

Há um perfume no seu hálito,
Me lembrando orgasmos estivais,
Girando meu espírito em espirais infinitas
De suas vísceras mornas,
Que anunciam anos futuros.

Um segredo no seu olhar,
Enigma indecifrável
De que entre muitos prazeres
Um prazer maior aguarda
E explode e se espalha
Nos espaços,
Em segundos.

Uma dúvida contornando o seu peito
A espera de apenas uma certeza,
Definitiva como uma geração inteira,
Com toda sua miséria e grandeza.

Há um sim que em sua voz vacila
E hesita nos meus ouvidos
Como um eu-te-amo sincero.

Um banho de amor
Que lava fundo a minha alma.

Há apenas você e eu
Combinando carícias
Que nos aliviam sincronizadas

E o mundo amplo e livre
Com seus caminhos inumeráveis.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...