domingo, 26 de outubro de 2014

João Rosa de Castro - O Sonho de Terpsícore - Com Prefácio de Carmen Liz Vieira de Souza


FLORA ALÉM



Flora era suficientemente coração.



Lambia os ares poluídos.



Cria no progresso do caos.



Mas sabia que o que bem queria



Era algo que inda não fora inventado.



Observava a dança dos braços das rodas do trem.



Apetecia-lhe o rebolado dos andares mais severos.



Flora era suficientemente emoção.



E tinham-lhe no grupo compaixão.



Ela é que ardia com a perda de suas folhas:
Notava no mundo um outono eterno.
E agia fotossintética.
Mantinha-se enredada em sua cadeia de flores.



Amava o mundo,
Queria a vida.



Pisava sobre a Terra devagar
A fim de não a desgastar.



Flora fora Capitu:
Capitulava seu sexo
Sem desferir gemidos falsos.



Flora não era apenas uma mulher.
Exalava de seus pulmões a pura verdade,
A vasta loucura,
A lei dela provinha.




Flora era a lei – e não apenas uma mulher…!

domingo, 19 de outubro de 2014

João Rosa de Castro - O Sonho de Terpsícore - Com Prefácio de Carmen Liz Vieira de Souza


A CHACOTA



Eu não precisava de fortim que me protegesse;


Não precisava de um césar que me dominasse;
Nem judas que me traísse;
Nem mecenas que me pagasse.

Bailava pelas ruas – espaços vazios.



Meus movimentos eram conscientes - inconscientes.



Bailava ao som de uma orquestra, de um assobio;
Num silêncio sepulcral.

Era a única coisa que eu fazia de boa consciência.

E me comparavam com Sofia
E ainda pensavam que eu sofria.

Mas não, eu estava feliz, mesmo que sofresse.



Mesmo que qualquer Maria descesse;
Mesmo que o Brasil tivesse pouco dinheiro – ou muito.




Eu não me importava com a chacota.
Impunha respeito, e me respeitavam,
Conquanto que eu não soubesse ou percebesse.



Eu não parava para respirar fundo.
Fazia-o antes, durante e depois

Por amor de viver…!

domingo, 12 de outubro de 2014

João Rosa de Castro - O Sonho de Terpsícore - Com Prefácio de Carmen Liz Vieira de Souza

NÚBIA NÃO SE IMPORTAVA COM O QUE DIZIAM POR AÍ


A cidade grande era grande.



Era uma cor entre cores.



Tudo guardava o passado.



O entertainment queria nome.



A ânsia era o estado alfa.

Dali para o receio,
Do receio para o medo,
Do medo para o pavor,
Do pavor para o horror,
Do horror para o terror.
E nós só alegrávamos o mundo.



Eu, grávida de um avião.
Não sabia se ia abortar ou parir.
Não sabia se sumia ou voltava,
Curtia os dias ou ficava
Esperando o amor dos anjos.



Eu era a única ingênua
Que falava de amor: quão efêmera.



Os homens mais raros viviam mais.



Se eu desse um pulo do céu ao inferno
Mandava um beijo rápido para a Terra.

Onde eu estava? Estava em pé e parada.
Andava dali e corria,
Corria dali e saltava,
Saltava dali e bailava

A dança do sol e da chuva!

domingo, 5 de outubro de 2014

João Rosa de Castro - O Sonho de Terpsícore - Com Prefácio de Carmen Liz Vieira de Souza

FABIANO PODERIA SER APENAS HOMEM



Mas overman, mas houvesse quem
O superasse na contemplação das nuvens…



Um pêlo do seu pé no palco fez ebó.



Fabiano também se tornara anjo.



Voava por sobre os prédios da Consolação num sábado fervido à noite.



Achara a vida enfadonha de cima.



Quantas mulheres não lhe dariam filhos!

Filho.


Ele não queria berimbau.
Ele vira as luzes de natal.
Apagava-as, apagava-as, apagava-as.
Soprando, soprando, soprando
Qual vela de aniversário.



Fabiano nascia a cada dia.



Parecia que as noites eram úteros



Úberes, úberes, úberes.



Bailava e sobrevoava o público.



O público nunca viu Fabiano
Mascar chicletes escondidos por trás das asas.
As asas.

As mesmas que o trouxeram dos sertões!

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...