domingo, 25 de outubro de 2015

João Rosa de Castro - O Erê - Com Prefácio de Rosângela Rodrigues Ferreira

A MALOCA


O moleque comeu a moqueca.
A marmita caiu na avenida.
Abriu-se toda – uma vergonha.
O moleque deu o pé pra doce de amendoim.
A quaresma durou muito tempo.
A fogueira de S. João deu pipoca.
Galinhas mortas subiam para os céus!
E aquela moça tinha o cangote cheiroso.

Maritaca passou pela rua,
Cumprimentou todo mundo.
Eita que baita candanga
Correu pra ir beijá-lo.
Eita preula, na boca.
Feito a novela das sete.

Mas eu já vinha notando
Que a civilização se divide
Em neutrons comuns azulados
E enzimas cardíacas prontas,
e prótons sagazes secretos,
em netos de quem não foi pai,
as mães que dizem com talco,
e filhos que respondem com ira.

Quem vai dar jeito no mundo?
O mundo vai dar jeito em quem?
Convém esperar os alienígenas

Nos discos voadores do além.

domingo, 18 de outubro de 2015

João Rosa de Castro - O Erê - Com Prefácio de Rosângela Rodrigues Ferreira

O RECADO


Uma escova fina para pentear
Os cabelos desse dengo de menino.
Vamos torná-lo doutor
Vamos colá-lo no chão.
Chama o Machado de Assis
Arranca o erê da solidão.
Pense num jeito discreto.
Eu sei que somos milhões.
Mas cada um do seu modo,
Pode ser mais feliz do que triste.

Nunca pensei que eu pudesse.
Ser pai assim tão contente.
Ver a criança – o futuro
Brilhar nesse par de olhos.

Tens aí a mãe toda tua
E os meus dias de graça.
É para rir que convido
É mostrar os dentes que surgem,
Porque depois eu me tranco
Nos afazeres de homem.
Fica você mulherzinha
Querendo a pele macia,
Bebendo sucos salgados
Amanteigados e tépidos.
Pera que inda tem aqui o tempo
Nesses ponteiros tão certos.
Nunca se esqueça da hora
Que vai seguir os teus passos.

domingo, 11 de outubro de 2015

João Rosa de Castro - O Erê - Com Prefácio de Rosângela Rodrigues Ferreira

A TEIA


Conta campestre.
Cisma do agreste.
O escravo acena.
Pede seus dias.
O Senhor do outro lado.
Cada ser intermédio.
Eu, ser que sou,
Também fico.

Terra redonda.
Circo fechado.
Ruas de terra.
O mais simples condena,
Reza escondido.
O confuso reclama.
Cada ser intermédio.
Eu, ser que sou,
Só divido.

Rede da tribo.
Cama da aldeia.
Gozo da Europa.
Sol: novo mundo.
O amor sacrifica;
Bebe seu sangue.
A presa desmaia.
Cada ser intermédio.
Eu, ser que sou,
Observo.

Conta redonda.
Circo da aldeia.
Gozo campestre...


É preciso coragem pra aceitar que tudo é infinito.

domingo, 4 de outubro de 2015

João Rosa de Castro - O Erê - Com Prefácio de Rosângela Rodrigues Ferreira

O PASSO


Um passo!
E o segundo com as mãos soltas.
Já posso ir sozinho aonde está o amor.
Ir é um verbo infinito.
Os meus pés ferem a terra com inocência.
Terra, eu. Eu, terra. Terra, eu. Eu, terra.
Mundo simples que se apresenta.
Terra virgem que atrai sementes.
Morna manhã de setembro.
Mulheres passando apressadas.
Eu de pé, perdido,
Escolhendo objetos pelas cores,
Me assustando fácil
Com os gestos abruptos.
Marcha!
Samba tocando na vitrola.
O ébrio perdido na viola.
Tudo o que eu já posso buscar.
Um aroma brasileiro no ar.

Um passo é um destino que começa.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...