domingo, 31 de janeiro de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra

RUPTURA

Vi a lua iluminar
Paragens desabitadas.
E pássaros cantarem
Por cantar.
Saboreei o frescor inadiável
Da hortelã que plantaram.
Sintetizar os meus anos
É a difícil tarefa que me cabe.
Se há uma longa
E insondável trajetória
Até mesmo no mais simples
Objeto que possuo,
Por que não será
Mistério indecifrável
A existência dum sujeito
Que se ocupa?
Ainda nestes dias
Tudo será possível
Que de mim se arranque
Que ainda o címbalo
Não retiniu para que
Meu espírito se cale.
Dias virão em que
Os poetas deixarão
Seus aposentos carregando
A palavra muda,
E toda beleza será lida
Por qualquer mortal
Em sua própria,
Descomprometida
E natural poesia.
Qual excomunhão será
Mais pungente
Do que a vinda
De si mesmo?
Apesar do círculo escuro
Formado ao fim desse ato,
A beleza implacável ressurgiu
E se manifestou
Mesmo onde não havia

Olhos para contemplar…

domingo, 17 de janeiro de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra

O CANDELABRO

A Flor da Tailândia do Bixiga é.
A Flor da Tailândia do Bixiga engloba.
A Flor da Tailândia do Bixiga vibra
Com mexericos históricos e pandemônios monumentais.
A quem terá oferecido a Voz De Ouvir nesses dias?
A que terá sido útil?
E um verdadeiro inverno cobriu este lugar
Como uma mortalha.
Ou serão meus olhos?
Ou estarão os meus sentidos mais apurados,
Menos dóceis?
Tudo se torna ambíguo – dúbio – duvidoso.
Qual teoria será para mim suficiente?
Lance eu mão de toda lógica que houver nessa vida.
Faça eu conjeturas e levante hipóteses
Já pontuadas em qualquer tragédia:
Existe um escravo em cada amor!
Existe um anjo da guarda
E um duende confuso a nos distrair.
Em cada amor existe um carnaval inteiro, um vendaval medonho.
Há muitas paredes
Retendo o desejo súbito
De novamente te roubar
Um beijo Mais Que Nunca misterioso.
A Flor da Tailândia do Bixiga aparte.
A Flor da Tailândia do Bixiga encharcadíssima.
Distantíssima.
Mal-regada.

Eu,     

Aprendendo a valia banal e divina da tua fotossíntese,

Envergonho-me da minha própria inutilidade
Nesse teu jardim!

domingo, 10 de janeiro de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra

NOVEMBRO

Eu tenho data para comemorar.
Néctar para sugar.
Porém, de mim se afastam;
Querem me tornar também uma máquina sobre-humana.
E eu me fecho.
Eu sinto tristeza.
Eu insisto em ser gente.
Mostro meu rosto molhado:
Lágrimas que ostento.
Faça, mundo, o favor
De me deixar na minha paz.
Deixe que eu vá
Com minha liberdade quadrúpede.
Se o meu coração atrofia,
Se o meu moinho não gira,
Se meu oceano é sem onda,
É porque quero me apartar.
Assim, não insista em me amar,
Não me traga alianças ou pactos,
Não me pregue mentiras,
Esqueça-me.
A minha estupidez é ladina demais.
O meu olhar tornou-se palavra.
Meus gestos tornaram-se palavra.
A minha fortuna é a minha palavra.
Tolere-me. Tolere-me. Tolere-me.

Eu tenho data para me emocionar.
Boca para beijar.
Porém, de mim dependem:
Querem-me tornar também uma estátua viva.
E eu desafio.
Saboreio a vitória.
Persevero em serpentes.
Mostro a fronte molhada:
Suor que ostento.

              
Faça, mundo, o obséquio
De me deixar no meu mundo.
Deixe que eu siga
Na minha condicional prisão.
Se a minha fala ironiza,
Se o meu relógio termina,
Se o meu estado condena,
É porque é hora de me entregar.

Então, não pense em me esquecer.
Não me apresente inocentes.
Não dissimule harmonias.
Enfrente-me.
A minha ignorância é humana demais.
O meu olhar se tornou pedra.
Os meus gestos se tornaram pedra.
A minha fortuna é a minha pedra.
Observe-me. Observe-me. Observe-me.

Eu tenho data para comemorar!

domingo, 3 de janeiro de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra

O CIO DA PEDRA


O imã nada imagina.
A pedra cedo germina.
A gente se determina
A ler um jornal por dia.
A febre nunca termina.
As férias nada ensinam.
Trabalho não dignifica
Nem homem, nem rã – leopardo.
Os irmãos nada descobrem.
Extratos bancários não tecem
Nem cor aos olhos
Nem som a ouvido algum.
Os anéis nada explicam,
Salvo os da essência d’oeste.
As rimas nunca perseguem
Como fizeram ao Navegante.
Milhões de almas em transe.
A crina ninguém emudece.
As rosas antes falassem
Do que murcharem tão sãs.
O tiro ninguém escuta.
A tribo nada resume.
A gente só examina
O tipo de asfalto que pisa.
O ouro nada reflete.
O espelho ninguém reprisa.
O prisma antes fizesse
Da lua nova outro sol.
Os plugues não sabem hora
Mas ligam, ligam – quase nada.
E eu a tudo assisto.
Insisto, insisto – quase tudo!

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra

Dedico este livro às sacerdotisas dum doce império, Aparecida de Alencar Carvalho, Maria Alice Paes e Joana Maria da Conceição Alencar.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...