domingo, 31 de julho de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra





PÉTALA AZUL

Hoje choras que te arrancaram almas sãs,
Que te castraram formosa e chã,
Que tua lágrima é amarga e vã.
Hoje anseias por aquele rio
Que te consolava e cortava em trio,
Por que explodam bombas desse teu pavio,
Mas os teus segredos ninguém não ouviu.
Que o ultra-homem calor não sentiu,
Pois que tem olfato mas o teu odor
Alcança só a gente tua.
Hoje entendes que tua raiz
Entranha pela terra: um triz,
Que tua memória é de aprendiz.
Hoje inflamas sem sentir dor,
Que guardas tudo o que nem o amor
Enxerga ao longe no seu pudor.
Hoje assustas as pátrias crédulas
Que perclonam e tentam copiar-te as células,
A diversidade, no teu bolso: as cédulas
De uma moeda natural e vívida.
Hoje pensas num amanhã inteiro,
Que de ti o que vimos ainda está por vir,
Que o teu enigma indecifrável
É o que respiras em pulmões sagrados.

domingo, 24 de julho de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra



A PROMESSA

Fechei o agosto com a táctil emoção de dever cumprido.
Anunciei feitos e oráculos por sons ouvidos ao ar livre.
Fechei um lindo e infinito agosto.
Embrulhei-o como perfume que presenteia o amado ser.
Celebrei o temível e esperado agosto
Com bons-bocados e comidas que comemos em agostos.
Fechei o agosto soltando retratos de deuses pelas janelas de prédios e aviões.
Fiz amigos no agosto amplo.
Passeamos nas quatro luas possíveis.
Inventamos ainda mais ritmos de ondas para alegria radioativa...
E alegria de quem foi à praia para brincar águas de agosto.
Desenhei múltiplos horizontes no agosto intenso.
Fui intenso com lembranças do olhar paterno.
E abri o setembro colorido.

domingo, 17 de julho de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra


MÃEDEDEUS

E a árvore testemunha.
A árvore não teve vergonha
Do que isto fez, do que isto quis.
Que a raiz subiu ao céu
Para além dos olhos do humano.
Teve com Deus conversa,
E ele não gostou nada
Do que se dizia aos seus pés.
Dinossauros divertidos
Pensando a raça virgem,
Maquinando um futuro só
Para todos os suburbanos.
E a árvore testemunha
Conseguiu o nosso perdão

E no-lo entregou em mãos.

domingo, 10 de julho de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra


ENTRE
       (a Léo de Carvalho)
  
E um beijo vespertino numa nuvem te beijou.
E você e tu e vós com sua voz não sentiu dor.
Que eras o resumo do ente amado e ideal dum
Outro ser que te procura mas não te encontra.
Que eras o vaga-lume a deixar só o rastro da
Sua luz iluminando as noites que insistiam.
Que eras um formador de toda espécie de anjos
Realizadores incansáveis do desejo em ti surgido.
Que eras o rei presente nas disputas dos teus filhos
Que lutavam a deitar sangue e sêmen nas sarjetas.
Por teu trono. Por teu trono. Por teu trono.
Que eras o navegante cruzando oceanos longínquos
Desafiando cantos suspeitos, rompendo tradições.
Que eras o elemento procurado pelos alquimistas,
A filosofal pedra, o elixir da juventude. Que eras tudo.
E teus horizontes ainda aguardam a tua vontade.
Tua grandeza se multiplica a cada movimento

Que ainda teces nesta terra.

domingo, 3 de julho de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra

INTERMITENTE CRIAÇÃO

Qual sentimentozinho caberia
Na palma ressecada deste poema
Encontrado num momento
Feito só para esquecer?
Criatura não foi criada para entender criador.
Criador não conhece sua própria geografia.
O universo faz e acontece com a cósmica anatomia.
O resultado: esse sentimento rasteiro e sem nome.
Que nome darei?
Que nome darás?

Ajuda um poeta que se acha sem palavra.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...