domingo, 25 de setembro de 2016

João Rosa de Castro - Amargo & Inútil



OSTRAS COSMOPOLITAS  Nesta realidade inexoravelmente caótica crio com um golpe uma transrealidade onde caiba este corpo que não sabe plantar, sedentário de caça, virgem de construções arquitetônicas, (um ser-ativamente-não-sendo) e mesmo assim estranhamente exausto, sôfrego, moribundo. Ditando usam-se argumentos omissos contra a ditadura, impondo outra ditadura sorrateira, social-democrata, corrosiva. Assim dito eu a esta destra que imprime talqualmente sobre a pauta. Dita-se ao respirar, ao saborear cozinhas; dita-se adormecido e até nas noites em claro. Dita-se. Menos interferon gama. Mais interferon gama. E a imensidão da microgravidade produz o que já a farta atmosfera nega. Anjos aguardam do Senhor o fast track para sair trocando ticket-restaurante por tropical forest lands. Foi sempre útil dizer que os mecanismos institucionais foram diluídos em recipientes errados, para que não houvesse o risco de esquecer. No poder, contudo, os pais deixaram os filhos, os filhos os pais, os irmãos os irmãos, antes da renúncia esperada – vai ser difícil manter-se um só sol para aniquilar vampiros na manhã. Dinastia (sempre social-democrata). Quantas teerãs terão, assim? Tora Bora é imensa qual o mundo. Todos os fundamentalistas lá residem. Shindô-renmeistas, cubanistas, fura-pautas, nazistas, astronautas, caranguejos, caramujos, varejeiras, euistas, poetas, todos esses elementos fermentariam em mangues. Ocupa-se com as preferências sexuais de Bentinho enquanto, a ocidente do Éden, Adão muito contrariado encomenda um exame minucioso de ácido desixorribonucléico para descobrir quem de fato são seus filhos.

domingo, 18 de setembro de 2016

João Rosa de Castro - Amargo & Inútil


KANDAHAR Gigantes se entorpeceram na própria ganância e já andam sem rumo e sem comunhão. O que fazer, que deus clamar, que horas são neste lugar? Na escuridão dessa burca já rima não encanta. Já seresta e techno-music suscitam a mesma dança, surtem o mesmo efeito. Prosa, tolo, prosa. Prosa. Até a guerra perdeu os nomes. Ficou só guerra. Perderam-se nas profundezas assustadoras do calabouço fundado pelos mesmos engenheiros do não-ser. Um lugar tamanhamente mais assustador do que os infernos desenhados pela mente humana que já não se precisa em qual língua chamá-los de volta para o mundo. Nós, miniaturas harmoniosas e ciosas da mais básica tranquilidade necessária para viver um tanto de vida, de ora avante vacinados contra o vírus de tânatos, de ora avante portadores do fôlego de eros, nós que persistíramos em participar da mesma mesa, da mesma prece, do mesmo pão – pueril intenção –  enclausuramo-nos. What color is God?

domingo, 11 de setembro de 2016

João Rosa de Castro - Amargo & Inútil



SANGUE  E desciam a rua medindo com uma régua o tamanho do mundo para tarifar. Pensavam muito em como equiparar beijos a estalactites. Sondavam as prateleiras da loja do segundo andar do shopping-center da cidade de São Paulo para descobrir o que mais parecia amuleto: espadinha ou colar que só se guarda. Depois disso, Deus deu com a cabeça no vácuo ao tentar olhar para cima. Os anjos decaídos riam muito porque não havia céu para Deus todo-poderoso, todo-generoso, todo-misericordioso contemplar, embora se cansasse deveras do olhar na direção dos pés, abaixo dos quais éramos desenho distante. Uma falange de afro-descendentes irritou-se com o governo e disseram que não! que não queriam apartheid. Nem o apartheid confesso nem o do tipo incubado (et cetera et cetera et cetera). E um dos apartheids incubados era aquele prescrito nas entrelinhas das cotas federais. E terminando os afro-descendentes de ficarem nauseabundos com essa desavença, não se animaram mais para ver a cara da rua – pediram para o Italian-looking-boy dos olhos azulzinhos ir comprar um pouco de pão, e comeram no interior da casa. O governo viu que estavam certos porquanto sulfite não tem pauta, a cigana não tem casa, Patrícia não usa esmalte nem no rosto – maquiagem.  Havia coisas óbvias que explicariam como tantos afros passaram nos testes, sem cotas embora. Minha língua deu estalagmites de tanto que não falo, ao que meu coração avisou: não responde por nada a não ser bombear, bombear, bombear.

domingo, 4 de setembro de 2016

João Rosa de Castro - Amargo & Inútil


PRESSÁGIO  O pobre diabo que passou por mim soube ler as horas nos meus olhos. Eu rijo subi o viaduto frio. Percebi que uns por cento de ViventesDeRua têm parte com a cia. Os SubViventes, de andrajos pensantes, auxiliam na administração do federal reserve. Qual esmola – se liga, bacana! Não me olhe de banda... –  dizia um deles. Passa o avião: vem gente para a cidade. Passa o avião: vai gente da cidade. Pára o avião – estaciona em algum lugar do céu. Como você demorasse nas suas minúcias estratégico-teórico-faraônicas, morreu sem entender a minha carta simplória. Não me culpes. Não me culpes a mim, sweetheart. Há um enorme parque ecológico no meio da cidade: não me culpes. Envolvi-me tanto com a sua lembrança e com a sagacidade do pobre diabo e com o avião estacionado no céu, que deixei você um tanto de lado como se eu fosse um robô esquematizado para esquecer. Conhecendo a sua conta bancária, conhecendo o patrimônio de seu pai, conhecendo o seu  automóvel, não teria deixado você triste assim. I should have known the poor devil was the owner of my shadow

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...