domingo, 26 de fevereiro de 2017

João Rosa de Castro - Zum


FILTRO CERA

Quem tem de comprar, compra sem grana erudita.
Quem tem de esperar, espera sem pressa de feira.
Quem tem de excluir, exclui sem saber cores.
Quem tem de partir, parte sem beija-flores.
Quem tem de surgir, surge sem avisar antes.


Um marasmo desceu naquela sala e uma zanga.
Três pétalas de flor querendo ser flor inteira.

Cleópatra, apátrida, insólita - ainda.

O que há nos hinos que não cabe na bandeira,
No chão e na vida menos ainda caberá.    Ora.
Bolas distraem 22 homens do modo mais humanitário
Que a História já viu.

Filosofia? Religião? Ciência? Já?

Está cedo!
Ainda é cedo.
Ainda é cedo.

Quem tem de viver, vive sem coisa nenhuma...

domingo, 19 de fevereiro de 2017

João Rosa de Castro - Zum


ANÁLISE HISTÓRICO-DISCURSIVA DO ASTEROIDE QUE SE TORNOU HABITAÇÃO DUM SOBREVIVENTE DE URSA MAIOR”

Ontem diz: “Antes morra um só homem
Do que morra um povo inteiro.”

Hoje diz: “Antes morrer aos poucos
Do que morrer duma só vez”

Amanhã diz: “Ai,
Que preguiça!”

domingo, 12 de fevereiro de 2017

João Rosa de Castro - Zum


MARIA DA ENCARNAÇÃO ISOLDA CINTRA

Ah cidade recipiente louco!
Que seduzes que não as gentes?
Que queres em movimento
Senão o humano puro?

Ah cidade acalanto
Que filas e jardins não bastam!
Pois que é preciso corações de concreto.
Uma flor em teu âmago
E está formado o espetáculo.
Desvairadamente canteiro 
Que agrega romeiros
E astronautas em serena gravidade.

Ah cidade vernáculo trancafiado!
Que guardas em teus guardados
Que não o ouro puro dos dias?

É preciso um “pare!”, é preciso um freio,
É preciso um meio, é preciso olhares.
Que tua água tanta, que tua grita mansa
Ejacula nos ouvidos o som perdido dos mares.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

João Rosa de Castro - Zum


BUROCRACIA NO PLEIGRAUNDE

E quis ser homem sem ser reprise,
E quis uma soda sem ser aquela,
E quis unir sem ser barbante,
E quis amar sem ser clichê,
E quis um carro sem propaganda,
E quis andaime sem construção,
E quis ter grana sem pôr no banco,
E quis ter banda sem formulários,
E quis namorada sem ser aquela,
E quis a serra sem cortar árvores,
E quis tombar muros sem pinque-floides,
E quis a mãe sem fróide ouvindo,
E quis o outro sem repetir-se,
E quis a morte sem vir da vida,
E quis rimar sem ser poeta,

E quis ser homem – e foi reprise.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...