domingo, 30 de julho de 2017

João Rosa de Castro - Zum

ÍCARO


Porque aquele que se acha no final voa rápido para o começo.
E relê tudo.
E refaz tudo.
E novamente se surpreende,
Que até as paredes do labirinto
Criam imagens novas no tempo.
Porque o ventre da natureza
Com seus tentáculos abraça o homem
Sempre que ele se vê perdido.
E as canções e as solidões
Das multidões o acompanham embevecidas
Em rimas lentas e encantadoras.

Não há pessoa que não se perca
Nos arredores do além-mundo.
Pois entre o silêncio do último suspiro
E a sinfonia do nascimento
O melhor mesmo é renascer.

domingo, 23 de julho de 2017

João Rosa de Castro - Zum

AVENIDA PRINCIPAL


Ontem cantaram alto
E amarraram os sapatos.
Hoje afetam silêncio
Para induzir os mais virgens.

Ontem a tinta ia
Para além da tela decente.
Hoje a ilusão chega
Com virtual orgasmo,
Coisas intermitentes
Sem odor acentuam
Batidas do coração.

Se alguém aqui fosse anjo
Com metálica vestimenta
A mecânica asa a jato
Faria voar tão alto
Que o combustível acabava.

Ontem cartas rondavam
E os semblantes reluziam.
Hoje incomunicáveis
Nós nos tornamos deuses.

domingo, 16 de julho de 2017

João Rosa de Castro - Zum


O DESAMOR DO PÓS-AMOR


Impedido de falar de amor, o poeta calou-se.
Porque indissociáveis são o belo e o mundo.
O amor da tragédia,
O amor das panelas,
O amor dos instrumentos,
O high-tech amor,
É o mesmo da menina,
É o mesmo no teclado
Dos pecês apaixonados.

Não arranquemos o amor do poeta.
Sem o qual ele não anda,
Sem o que ele não vaia,
Sem amor, não surpreende.
Desamando, ele desmaia.

Deixem ele e suas cores
Policiais e marítimas,
Tudo pra ele é infância;
Tudo por ele: aventura;
Tudo amor e armadilhas.

O poeta calado é relíquia;
O poeta falado é ausência;
O poeta de amor se alimenta;
Sem ele sua alma perece.

Deixa o amor na poesia
E a poesia no amor.

domingo, 9 de julho de 2017

João Rosa de Castro - Zum

ANDAIME


Sem achar que o papo incomoda
Ou que as ondas são enfadonhas.
As respostas para um impulso que rebenta
Estão nas coisas que o impulso faz fazer.

domingo, 2 de julho de 2017

João Rosa de Castro - Zum


CARTAS NO CHÃO

Em tom de boas-vindas a vida recebeu-nos.
E nosso único desejo era existirmos plenos.
Cada um na sua ilusão,
Cada um na sua solidão,
Cada um no sossego escolhido
Para que a indispensável aleluia
Fosse ouvida de longe.

A dança dos andares
Escrevia nas calçadas.
Cada passo, um destino novo,
É aonde se quer chegar:
Aonde o passo imprime a ordem.
É marcha, é dança é andança.

Volátil andar a jato.
Portátil alma de um corpo.
Notável o nosso jogo
De insights lentos e tácteis.

Quanta arrumação num átimo.
Quanta possibilidade houve
Numa só noite de festa

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...