domingo, 22 de julho de 2018

João Rosa de Castro - Amor Grátis


POEMA DE ALÉM-MARTE: AOS NAVEGANTES DO FUTURO

Para esquecer todas as palavras alheias,
Ver, numa tela, toda a literatura recriada,
No escuro do próprio ser,
Onírico cinema de cenas e sons,
Do pulsar do próprio sangue.

Para desprezar as acusações dos semáforos
De que é preciso amor para parar no caminho.
Porque tudo o que passa de um é uma ácida ilusão.
Um mais um são uns abraçados no ar
Antes de soltarem os paraquedas.

Para purificar ainda mais ainda o que já está puro
Para as manhãs de sol e céus sem nuvens.
A sexualidade entre os pés e o solo (em choque)
Ultrajando as morais e as mais morais das morais.

Rebolam-se, requebram-se, balançam-se as saliências do corpo,
Os cabelos, os braços, se rebolam. Arse ‘n’ boobs.

Para entender todos os signos do blá-blá-blá
E fingir que Zaratustra jaz nos vácuos.
Porque somos só superstições,
Somos só abstrações,
Só éteres,
Bolinhas de sabão.


ENSAIOS WILDE


Quando eu pesquisava sobre a sexualidade, o que me sucedeu desde muito criança, algo que me chamava a atenção era a relação entre crianças do mesmo sexo. Proibida sempre. Desejável sempre. Sempre polêmica.
Quando adolescente, lia os livros, ingênuo, e achava que se no princípio não encontrasse a palavra “homossexualidade” ou correlatas, não valeria a pena ler – era a minha pesquisa, o objeto da minha curiosidade.
Só depois de traduzir três ensaios de Oscar Wilde, do inglês para o português, é que interrompi, por muito tempo minha pesquisa sexual. Os ensaios são Caneta, Lápis e Veneno; A Decadência do Mentir; e A Alma do Homem Sob o Socialismo.
Apesar de andar sempre na minha individual campanha contra os estrangeirismos, numa forma de proteger a produção brasileira, arrisquei nessa tradução no afã de conhecer o tão falado dramaturgo e literato.
Como tradutor, temos de engolir absurdos. Temos de dizer o contrário do que pensamos. Temos de ser fiéis e abandonar a beleza, muitas vezes. Por outro lado, descobrimos muita coisa que pensávamos e sentíamos e de que havíamos nos esquecido. Sabe quando escondemos um dinheiro grande, esquecemo-lo, e no momento da miséria damos com ele? Traduzir também é isso!
Com Wilde, não encontrei nada sobre “homossexualidade”, salvo pela experiência da própria vida que ele levou e pelo fim que teve, fim miserando em Paris, como muitos fins.
Mas ele era macho! Os desejos que tinha, ingênuos como todo desejo, não interferem em nada na grandiosidade de sua obra, a despeito da defesa do socialismo.
Se eu for considerar uma conclusão para minha pequena pesquisa sexual, que partiu da infância, terá sido a experiência com Oscar Wilde.
O resultado do poder às avessas do dramaturgo foi a miséria. A ruína foi o grand finale depois do uso do poder de maneira desnorteada e desnorteante. A obra recebe o meu elogio, porque toda obra merece. Mas o homem não terá minha defesa. Traduzi-o e sinto-o na verdade um traidor.
A rainha Vitória teve razão com sua punição. A obra de Oscar Wilde, sua sífilis, o modo como teve de deixar a mulher e os filhos, sua pseudoliberdade foram prejudiciais a ele, à família, à época e ao mundo, quando consideramos seu fim, semelhante a muitos fins sexualizados de nossos dias. Vida longa à Vitória! A tradução dos ensaios dedico a ela e são uma defesa de sua mão de ferro e de paz!

O seu autor,

João Rosa de Castro



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