CONHECER
Eu conheci o mistério do vento.
Donde surge, aonde sopra, porque encanta.
De altos picos, de vistas everestianas
Eu vi que a vida é de subir e de descer.
Vi o alvoroço, o vai-e-vem dos automóveis
E algumas leis que os permitem mover.
E no silêncio de uma tarde radiante
Vivi o insight
pra mais ainda inventar.
Tudo é novo, posto que o velho se reveste.
Nada se perde: tudo pode acontecer.
Eu conheci o segredo da miragem
Que na cidade já se faz compreender.
É o meu
impulso curioso e ladino
Que quer saber e quer saber e quer saber...
Eu lá no campo percebi que a terra é virgem
E conheci que ainda há muito que aprender.
O feito e pronto aparece no futuro
E o
futuro está no próprio conhecer.
ZUM
Zum forma com Bis
uma palavra que me é muito cara: Zumbis. Imagine se cada um de nós fosse um
Zumbi dos Palmares? Libertários como ele!
O livro traz o primado da criação. Inicia com o
poema “Produção Independente”. A escravidão de si mesmo. A mais acertada. A
mais democrática das escravidões. O escravo de si mesmo não escraviza ninguém
nem se deixa escravizar por ninguém ao mesmo tempo que escraviza a todos e se
deixa escravizar por todos. Ninguém mais que Zumbi para ter pensado em algo
como isto.
Ainda, o poema “Filtro Cera” diz: “quem tem de
excluir, exclui sem saber cores.”. O que disse há alguns dias nas redes
sociais: não se pode confundir preconceito, racismo e discriminação com
maus-tratos. Isto que a gente preta sofre são maus-tratos. E os maus-tratos são
apanágio da raça humana, não de uns ou de outros.
Mas, “Ritual Diário” nos iguala: “Mastigar,
saborear, engolir e esperar o grande efeito alucinante”. Numa alusão à fome,
que não escolhe classe nem indica se existe algo que lhe sacie.
Ainda, em “Fecundação”: “O meu desejo escreveu o
que com os olhos se apaga”. Uma alusão ao que o filósofo dizia sobre como o
ouro perde valor quando colocado em praça pública. Muitos sentimentos e
pensamentos só têm valor quando não são popularizados.
O “fazer” está bastante presente nesta obra. Não me
recordo o porquê da relação entre Zumbi e a produção. Talvez uma referência ao
fato de que o engenho de cana-de-açúcar só foi possível e produtivo no Brasil
depois que os escravos pretos vieram e assumiram-no. Se não fosse esse fato,
nada de Brasil. O preto e a técnica estão ligados pela própria natureza, uma
vez que os portugueses faziam tudo para não se profissionalizarem como os
pretos fizeram e ainda fazem.
O seu autor,
João
Rosa de Castro.