GOODBYE
Deixo o solar com o peito aberto
E uma tristeza nova.
Mais uma saudade pra minha gama de saudades.
Saio pela porta como quem deixa a mulher
prenhe.
Como quem vai comprar cigarros para sempre.
Sigo por esse caminho que já ando sem pensar.
Vou avisando os luzeiros que agora
Nem todo dia me verão passar.
As avenidas, os faróis, o metrô,
Anhangabaú que desço rasgando as Bandeiras,
Vendo a lua, que é a mesma em Salvador.
Enfiando o bilhete, automático como um robô.
E o solar vai ficando distante a cada noite.
E agora já lembra uma escola antiga
Que guarda eterna meu DNA nas carteiras.
Adeus, solar dos meus encantos,
Nunca mais serei teu como agora.
Nunca mais serás meu como foste.
Que a vida fica acesa e a TV deixo ligada no
saguão.
CIO DA PEDRA
Com o Cio da
Pedra, eu me despedia da vida em família, me despedia dos trabalhadores
braçais, dos comerciantes, etc., para me dedicar às letras. Mal sabia que
estava sendo mais um “Oi” do que um “Tchau” a todos eles.
A pedra faz referência às pedras de Pedro, meu
falecido avô paterno: pai-de-santo, que mantinha pedras pretas enormes em seu
congá, nas quais os babalorixás haviam de bater a cabeça antes de começarem as
giras.
O cio indicava que a pedra (ou Pedro?) me chamava.
A partir dali (início do curso de letras), eu partia para o mais distante. Como
de fato parti, ainda que me mantive presente de outras formas.
O centro do livro é dividido com oito poemas
dedicados aos filhos de meus pais. Cada um recebe o nome de um fenômeno
natural. Assim que temos o arco-íris, a chama, a neblina, a chuva e o outono, o
inverno, a primavera e o verão. Todos inspirados em cada um de nós, filhos de
meus pais.
A partir deste livro, eu sempre tinha a impressão
de que não teria mais tempo ou oportunidade de escrever poesia ou, muito menos,
prosa. Parecia que algo ia me limitar os movimentos: quer fosse a morte, ou a
dispersão total.
Mesmo assim, continuo escrevendo, traduzindo e
promovendo a minha obra. Levo-a a sério como se produzisse o pão, o cuscuz ou a
tapioca de cada dia ou como se destilasse a cachaça de cada noite. Não pode
faltar no café da manhã nem para esquecer as inquietações.
O seu autor,
João
Rosa de Castro.