DOPAMINA
Dopamina não é mais que dopamina.
Dopamina não é figura de cartão postal.
Dopamina teimosa precisa ficar sem passar
livremente.
Dopamina em excesso é arriscado como o malte.
Dopamina parece frase abreviada e coloquial.
Dopamina é um trem que tem vagões e mais
vagões.
Dopamina é capaz de levar Hércules para o
choque.
Dopamina gera gírias atômicas.
Dopamina a ciência não entende sem demência.
Dopamina vai no fluxo do cérebro desprezado.
Dopamina manda no mundo que nem dama
apaixonada.
Dopamina tem vaidade, tem vontade, tem tensão.
Dopamina
faz da vida uma ciranda, um refrão.
Persona Non
Grata teria se chamado Ouça-me. Seria, pois, a continuação do
desespero. Ocorreu, porém, um imprevisto, em que o gerente do hotel onde eu
trabalhava declarou “persona non grata” um primo meu que se hospedava lá, por
motivo de vandalismo de um seu companheiro de quarto, e o fato me deixou muito
irritado.
Mas o livro em si é considerado o primeiro desta
mesma fase que ainda não terminou e inclui toda a minha obra. Fala de samba, de
comida, continua com a relação da tecnologia e dos produtos da natureza,
valoriza o pensamento jovem, a arte, a vida da burguesia no tempo, questiona o
valor da tecnologia pura, a guerra, etc.
Foi o primeiro livro de minha autoria que recebeu
registro na Fundação Biblioteca Nacional. Abrindo caminho para todos os outros trinta
que viriam depois. Enfim, esses livros não correriam mais o risco do aborto que
sofreram centenas de poemas escritos nas minhas primícias.
Graças à psicanálise, o apocalipse tinha terminado,
a asfixia tinha sido dissipada, o socorro da escuta havia me redimido ou ao
menos atenuado meu desespero. Pareceu-me que a vida estava sob controle.
Fui percebendo o psicólogo como o novo grande
senhor integrado, que se contrapunha aos apocalípticos como eu vivera até
então. Havia sim muito que ser feito, que ser pensado, dito, ouvido, escrito e
lido, antes mesmo que pudéssemos pensar em qualquer fim.
Portanto, Persona
Non Grata representa, desde seu nascimento, em 1998, aquele grande
recomeço. Uma fase promissora que só terminaria com a escrita do trigésimo
primeiro livro.
O seu autor,
João
Rosa de Castro.