ROSA
DE PAPEL
Tal como o silêncio é tomado:
Às vezes por arma letal,
Às vezes por sacra virtude,
Você faz da minha omissão o que bem quer.
Aproveita a figura que eu inspiro e rege o seu
mundo.
Entretêm-se.
Delicia-se.
A mulher-arma abre os braços e se rende e
sucumbe
Porque a guerra é uma distração antiga.
É preciso pilares para sustentar o seu teto.
O que pesa tanto acima de você?
Que passos são estes por sobre a sua cabeça?
O seu sussurro parece um grito disfarçado.
Os seus olhos escrevem e narram uma vertigem.
Amor.
Que fazer com as cores dessa paisagem?
Façamos um mundo juntos.
Façamos a vida juntos.
O real em sua nudez estonteante.
Nossa visão atenta
Que em tudo vê a volúpia.
Aumenta – dá zoom no mundo.
Volume – ensurdece a alma.
A
natureza brinca.
Amargo &
Inútil é uma ironia usada contra a
afirmação de Horácio, que eu lia no metrô, em uma daquelas detestáveis
apostilas universitárias, de que a poesia era “doce e útil”.
Considerei bem o contexto em que a expressão era
lida: no metrô lotado, lendo um livro fotocopiado, para responder a um
questionário de prova regimental, de uma universidade privada. Não tinha como
não dizer o contrário do que ele dizia. Daí o livro.
O limite aqui é total. É a pressão da asfixia da
sintaxe, em que não existe espaço nem mesmo depois dos pontos finais. Um poema
se inicia logo que o anterior termina. Uma invectiva contra os governos
pseudossociais da transição entre FHC e Lula.
Na época, eu estava lendo, de forma visceral, os
jornais, Eça de Queiroz, Machado de Assis, Lima Barreto, assistindo Nelson
Rodrigues e Shakespeare no Teatro Oficina, e o livro não poderia resultar em
outro que não este.
É o grito das praças públicas. É o manifesto mais
veemente daquela época que precisava ser passada a limpo, como está sendo feito,
depois que tudo aquilo passou, ainda que ameace começar tudo de novo, nos dias
de hoje e de amanhã. Que nossa mente ainda está nos porões da ditadura militar,
e o livro é um grande contributo para essa atmosfera de tortura que se vive
ainda hoje, mais de trinta anos depois dela.
É o livro em que trato de política da maneira mais
direta em comparação com todos os meus outros trabalhos. Merece muita atenção e
será publicado novamente por aqui no nosso eterno carnaval.
O seu autor,
João
Rosa de Castro.