HAVANA
Endoscopia no canibal
estômago
Mamografia nas tetas
da esperança
Injeção intravenosa
no sangue global
Anestesia na gengiva
impura e romântica de Hans
Histerectomia no
ventre imoral da natureza
Vasectomia nos
testículos de “Deus”
Lavagem intestinal na
xenofobia
Benzetacil por conta
das dores da América
Lobotomia no cérebro
eletrônico de Bete
Biopsia no fígado
adulterado de Carl
Colírio nas retinas
de Cabral
Gesso no corpo
inteiro de Joaquim
Sonda para a urina do
rei não cair.
Eletrocardiograma no
coração dos poetas.
E
festa, festa no gueto pra disfarçar a miséria.
AMOR GRÁTIS
Depois pensei nos amores entre pessoas de mesmo
sexo, nos amores de pessoas comprometidas, nos amores prostituídos e promíscuos
e escrevi Amor Grátis.
“Vasectomia nos testículos de Deus, lobotomia no
cérebro eletrônico de Bete, eletrocardiograma no coração dos poetas, e festa,
festa no gueto pra disfarçar a miséria.”. Tempos modernos, na “Havana” do Amor Grátis.
Em “Melancolia”, “quiçá uma carícia, quiçá um
abraço, quiçá um beijo, quiçá um orgasmo seja o marco dos seus dias.” Este
verso coloca a vida do sexo irregular como o novo promíscuo, ou seja, mais abjeto do
que a luxúria que se usava no Brasil-colônia para a procriação.
N“O Lenço Perfumado”, “fascina o rico lenço
enxovalhado, simbolizando um amor tão impossível. Até que o tempo surge e deixa
só o lenço: leva o perfume e então no pano é só vontade.”, tenho a impressão
das monarquias imponentes em que os soldados-cavaleiros desejavam as rainhas –
as destinatárias - escravas dos leitos de seus reis.
“E dizemos em cruz o de pura libido” é um debate
sobre muitos cristãos que usam da violência da cruz para valorizar o que não é
tão edificante assim. O “Poema de Auto-Ajuda” chama a atenção para imagens
desta espécie: […] “a solidão nos assusta, e procuramos os pares, os ímpares e
os lugares, queremos ser populares, mas somos rara escultura […].”.
No poema do inefável, “Lobisomens”, temos um eco de
Camilo Pessanha, com seus traços para censurar o censurável. Deixa apenas o que
as épocas tentam, em vão, universalizar: “Ernesto e Amadeu se desejam sempre
que podem. Transam a transa nojenta aos olhos do povo. Depois o desejo seca, e
eles envelhecem como dois irmãos.”.
O seu autor,
João
Rosa de Castro.