REFORMÁLIA
Regressou para o embalo da ingenuidade.
Saber-se salvo
Purificado, catolicamente sóbrio
Era sinônimo de viver e viver-se.
A personificação desse ser ideal
Era impossível, impossível.
Mas a esposa insistia,
A vizinhança acendia,
As crianças pediam bênção,
Os protestantes oravam tensos.
Ao redor eram apelos e livros sagrados.
Tudo aconteceu numa manhã qualquer.
Como um compacto destino a desenrolar-se.
A persona saiu escondida de todos.
Mas onde quer que parasse
O
seu destino era o mesmo.
ADEUSES
Em Adeuses,
eu me despedia do mundo mais uma vez. Ou porque considerava os livros
anteriores pouco sublimes ou porque sentisse o “rancor da grandeza” diante do
que fizera até então.
Porém, debalde; ainda restava inspiração para toda
a obra que parecia não ter fim. Sempre uma inquietação me sobressaltava. E eu
em desespero só poderia me tranquilizar depois de escrever mais um poema.
Mesmo assim, é em Adeuses que hoje encontro “Paná-Paná”, e a história das borboletas.
E, ainda, “O Nômade”, que diz: “Pedir licença para chegar aonde te esperam com
horário e algemas.” Parecia já haver lido o livro que leria apenas dez anos
depois: Além do apenas moderno, de Gilberto
Freyre, dizendo que o time is money
vem sendo o grande vilão da vida nos trópicos.
Mas já era 2005. A poesia quase se despedia. A
prosa já se assenhorava dos meus poros. Pressentia que o poema chegava ao fim,
sobretudo em “Um Adeus”, e depois em “Prata”, mais convincente e a anunciar:
“Mais um adeus de chinelas contra o olhar panorâmico[…] e “Mais um adeus entre
adeuses de tudo o que jaz esquecido”.
E há também um soneto quase bom: “Exílios”: que
termina com estas duas estrofes: Onde há flores, relva, amores que percebam /
nesse desterro interno em telas, passatempo / os novos homens que sucumbem aos
milhares / senão mormente onde outros se perderam / e marcaram com um pranto e
um lamento / para que os novos desviassem seus olhares?
O poema é interessante na forma. Porém, no que diz
respeito ao conteúdo, é todo bom: bastante atual e já falava do exílio interno
vivido por muitos jovens nas metrópoles de hoje.
O seu autor,
João
Rosa de Castro.