MIRAGEM
(a
Cruz e Souza)
Enfim um mundo em que
se faz livre,
Respirando o ar
escolhido,
Alheio às falas
estridentes e distantes,
Sentindo no peito um
coração mais insistente.
Enfim a imagem
esperada,
A liberdade de ser
apenas nulo,
Sabendo em si saídas
para o amplo,
Sabendo ao seu redor
asfixia.
Enfim memórias vivas
e encenadas,
Revoluções que guarda
o pensamento,
Imensidão de mundo a
ser pisada,
Com outro mundo a
borbulhar na mente.
Enfim a natureza tão
presente
Engana e tece a cada
horizonte
Uma fotografia nova e
viva,
Seus passos se
confundem com o chão,
Sua voz ao ar entrega
a sua dor
E as portas não
percebe: anestesia.
Enfim a vida que se
faz ventre.
A nova solidão se
manifesta,
A música ouvida não
repete
Nenhuma nota jamais
antes ouvida
Ou pausa que permita
afastar-se.
Enfim robotizar-se
por completo,
Até que a alma
compacta se renda
E o
corpo corresponda a uma miragem.
PAISAGENS ONÍRICAS
No ano de 2013, eu delirei ao ponto de comprometer o
grand finale da obra citada na
mensagem anterior, “O Sonho de Terpsícore”. Por sorte, iniciei o último livro
de poesia que tenho escrito, Paisagens
Oníricas, que, como produto do meu delírio, tinha registrado como Loucura a
Seis.
E veja como existia um método em meus delírios: “eu
queria tomar um porre homérico. Eu queria um poema ingoogleável. Traria para a
realidade todas as possibilidades dos sonhos. Tudo seria trágico. Tudo seria
mágico. Mas o dia, a tarde, a noite, a madrugada foram incompletos.” Assim se
inicia o primeira estrofe do primeiro poema, “Favônio do Oeste”.
Não havia erro aparente na sintaxe nem na semântica
nem na morfologia nem na fonologia: […] “Mas isto é tão cristão. A poesia, o
álcool, os inimigos – tudo tão cristão. […] E mais uma vez tive orgulho da
minha tão sóbria solidão.”.
“A Noite Fria” termina dizendo assim: […] “Meu
amigo foi embora, embora eu o paparicasse, eu lhe enchesse a bola, eu o
exaltasse. A noite fria fica em silêncio enquanto eu me movimento rumo ao
infinito.”.
Depois do penúltimo poema, lindo poema, a Hermeto
Pascoal, não compreendo a balbúrdia que fiz da minha poesia. Escrevi um poema
chamado “Tão”: “Poeminha árabe-encantado, a ofertar aos seis anjos que vi no
oeste.”. E, pouco depois, […] “(João, onde está minha chupeta?).”. A partir
disto, cito os dez mandamentos de Moisés, no meu eterno e hebraico delírio.
Depois
desse fim amargo, só me resta concluir o último livro de poesia que pretendo
escrever. Já está começado, e tenho escrito devagar, muito devagar. Às vezes
demoro de seis meses a um ano entre um poema e outro. Mas este será mesmo o
último. E talvez seja descoberto por algum Rei Josias, dentro dos meus
guardados.