A
RÉGIA MANHÃ
Tempo e harmonias vãs
Os sons da música se
combinam
Para ouvidos sãos.
Nunca mais a marcha
Tomará os homens
Para darem a vida por
paraísos infundados.
O movimento da gente
na rua
A construção que se
contempla
E se harmoniza com o
natural fôlego de vida.
O raro arco-íris que
surge vespertino,
O flerte dos futuros
amantes
Farão da vida uma
nova passagem.
A imensidão de noites
estreladas,
Os horizontes
habitados e desertos,
O tempo passando
obstinado,
Todo o folclore das
praças.
Ouro para conduzir a
luz
E o pensamento se
expande
Em sonhos coloridos e
primaveris.
Tudo para que o ser
se eleve na régia manhã
E acredite na riqueza
de seus passos
Regendo
o corpo que útil faz a vida e o mundo.
CAMINHO CLANDESTINO
Em 2009, nascia Caminho
Clandestino. Talvez o livro cause a sensação de uma incipiente malandragem
chegando aos nossos portões. Mas me parece mais uma incursão política pelo
Brasil, em relação ao mundo. Será, afinal, este lugar uma nação (que respeite
as leis mundiais) ou apenas um país, que lute com os demais sem armas o
bastante?
“[…] Muito se pode fazer quando um demônio nos
invade o paraíso: furar a fila do esquecimento, segurando-o pelo colarinho,
fechar os olhos ante seu rosto, ignorá-lo, desprezá-lo ao rir com um amigo.
[…].”. Estes versos estão logo no princípio do livro: no poema “Os Trilhos”.
“[…] O trem faz a trapaça. Quase beija, mas não sonha. […]” e, logo depois:
“[…] o trem não faz pirraça, quase sonha, mas não dorme.[…]”. Por fim, conclui:
“[…] O trem parece a traça. Quase dorme e amanhece. Todos somos jovens demais
pra pedir desculpas a alguém.”.
“O Subterrâneo” diz que “Os homens são belos para
as mãos fêmeas”. […], mas “[…] ficam os homens-boneca de piercing e gel nos
cabelos. Que pensam só pesadelos. Os machos no subterrâneo, com putas computam
o tempo e bebem da vodca, uísque, poetizando a vida, um alento; […].”.
Em “Os Pássaros da Urbe”, os paradoxos se expõem
naturalmente, quando “Tudo [está] dentro de tudo, nada dentro de nada, nada
dentro de tudo, tudo dentro de nada.” […]. Mais adiante, diz: “[…] Os inimigos
não mais inimigos, juntam-se e riem de si mesmos: Nada fora de nada, tudo fora
de tudo, tudo fora de nada, nada fora de tudo.”.
Tenho a ligeira impressão de que, se eu, como
pessoa, biologicamente, culturalmente, intelectualmente, envelheci, minha
poesia só fez rejuvenescer nos anos todos que passaram desde 1992; apesar de
esperar a morte entrecortando ou interrompendo minha obra, de livro para livro.
E uma homenagem a Maria Rita Kehl é um pouco assim:
[…] O tempo passa… o mau-humor se converte em bom-humor. Os fogos iluminam os
céus escuros. Eu te vejo, digo “olá!” e te abraço. […] O tempo passa… como
passam passaradas, assobiando um futuro, alvoradas, e despertando do seu sono
os colibris.”.
O seu autor,
João
Rosa de Castro.