ECCE HOMO
Eis que ao sentir a
vida tão intensa,
O Belo avança e toma
o intelecto
E ao caos do mundo
faz surgir um nexo
Resulta-me a razão
por fim suspensa.
As sensações do talhe
que só pensa,
Ouvindo os sons
distantes e incertos,
Vendo na multidão só
os espectros
Transformam-se em
idéia que convença.
E faço do que sinto o
possível,
O exato: matemática,
e anseio
Por tudo repetir e
nada crio.
Então, o Belo de
ininteligível
Da lógica respira e
se faz feio
Qual
flor que em poucos dias perde o brio.
SUPEREGO CULTURAL
Eu tinha lido, de Freud, A Interpretação dos Sonhos; Mal-Estar
na Civilização; O Ego e o Id e outros Trabalhos; e,
principalmente, Totem e Tabu e O Futuro de uma Ilusão.
Senti o impulso de tratar mais claramente do que o médico,
ou, pelo menos, de maneira mais direta, ou popular, da religião cristã, que
Freud discute nO Futuro de uma Ilusão.
O primeiro livro de Nietzsche que lera, havia dezesseis
anos, fora justamente O Anticristo,
no qual o filósofo condena a fraqueza e a pusilanimidade no interior do
espírito da religiosidade cristã.
Já tinha escolhido, mais uma vez, as escolhas alheias.
Àquela altura, da escritura de Superego
Cultural, eu já vinha amargando uma relação atribulada com os meus
circunstantes por supervalorizarem o imaginário da cristandade, por negarem de
todo a natureza e a realidade da natureza humana, por me dizerem sempre “graças
a deus”, “deus lhe pague” ou “se deus quiser”.
Era-me impossível rechaçar ou condenar a filosofia da
negação da cruz proveniente do filósofo e passar a sentir-me mais um ingênuo
que pudesse acreditar naquelas promessas despropositadas de 2018 anos atrás.
Afinal, estava, e nascera, no “país do carnaval”.
Passei a usar o desprezo com a cristandade, tornei-me mais
um pragmático, que tinha muito arroz e feijão pra cozinhar e muita roupa por
lavar em vez de estar perdendo meu precioso tempo tratando de coisas supremas
que me pudessem enfraquecer ou empobrecer o ânimo.
Donde haver iniciado as primeiras linhas de Superego Cultural. Um livro escrito para
além de Pilatos. Nele condeno alguns conselhos supostamente atribuídos ao
crucificado, demonstrados como “pedras de toque” no evangelho de Mateus. Tantos
são os conselhos absurdos encontrados em apenas doze capítulos, que desisti dos
demais. Achei que bastavam esses exemplos de anarquia e de fraqueza de espírito
provenientes dos ministros da igreja para poder dar por concluído meu veredicto;
que, por fim foi mesmo que o do retorno ao desprezo ou à decisão por um
desprezo ainda maior de toda a cristandade.
Há ainda, em Superego
Cultural, para quebrar o gelo, e para tentar fazer jus ao título, incursões
pelo cotidiano real do narrador com o fito de tornar a obra mais palatável.
Porque que é amarga, isto é verdade. Como qualquer remédio eficaz, porém.
Entreguei um original para o amigo poeta Felix Coronel
produzir uma apresentação – e até hoje ainda não chegou. Vamos esperar
ansiosos!
O seu autor,
João
Rosa de Castro.