TRAIÇÃO IN VITRO
O céu azul amplo
indecifrável
Cala-se na própria
infinitude
Assim como faz a
minha alma
Que pode esconder um
anjo
Ou pode alimentar o
monstro.
A ti em silêncio se
dirige
E permite apenas o
tom esquivo dos atos.
Que se pudesses
conhecer tão vis segredos...
Que se não fosses tão
frágil recipiente,
Se não houvesse em
teu olhar a luz da ira,
Eu daria a minha
essência clara e pura
Para unir-se à tua
tão invicta.
Porém, o céu azul
amplo e indecifrável
Cala-se na própria
infinitude
Assim como faz a
minha alma
Que a ti em silêncio
se dirige.
A LEITURA VIVIDA
Este foi um ensaio, um esboço do que estou fazendo em Cidadania Brasileira: ler os livros
alheios e dar minhas impressões ao longo da leitura.
Assim
que leio Aristóteles, em Physics; Thomas
Kilroy, em Tea and Sex with Shakespeare;
Félix Coronel, em Como é que é; Fábio
M. Said, em Fidus Interpres; Oscar
Wilde, em De Profundis; Thomas
Kilroy, novamente, em The Shape of Metal;
Charles Darwin, em On the Origin of the
Species; Eurípedes, em Prometeu
Acorrentado; novamente, Thomas Kilroy, em Madame MacAdam Travelling Theatre; Michel Lahud, em A Vida Clara; João Guimarães Rosa, em Sagarana; Adam Lashinsky, em Nos Bastidores da Apple; Shakespeare, em
Rei Lear e em Hamlet; outros títulos que não terminei até hoje, outros de que
desisti, alguns artigos da revista especializada em tradução, TradTerm, da USP,
e muito, muito da realidade que estava vivendo na ocasião de todas essas
leituras aparentemente descontextualizadas entre si.
Todos
esses autores, de alguma forma, fazem parte da experiência intelectual de uma
fase que vivi e deve ter durado cerca de três anos.
Lembro
que escrevia uma parte do livro com caneta tinteiro quando minha sobrinha,
Chelidon, observou-me escrevendo e ficou intrigada. Disse: “você escreveu tudo
isto sem copiar, tio?!”. Ficou assombrada, e eu é que passei a me perguntar:
“será que os mais jovens não imaginam como se cria algo, não imagina que muita
gente por esse Brasil escreve cartas sem copiar de nada a não ser de sua
própria memória, de sua própria mente ou da consciência?”. Senti-me como se
praticasse sexo e fosse observado por uma criança.
Outro
sobrinho se pôs a ler um texto meu e disse: “engraçado, parece que eu vi o tio
João ler um texto exatamente como este!” Fiquei sem entender nada do que deve
passar na mente dos adolescentes. Faz tempo que fui um. Mereço um desconto.
A Leitura Vivida é,
pois, a realização de um sonho tão simples como dormir e acordar: “ler o que me
interessa sem que ninguém me diga o que ler.”.
É minha carta de alforria da servidão voluntária ou
involuntária. A partir dele é que passei a criar critérios do que me coubesse
ler. Às vezes entramos no concerto de um músico que não nos quer bem;
aplaudimos, dançamos com seu pífaro para depois descobrirmos que não era para
nós que ele foi destinado. O sentimento daí reinante é pior do que o de não nos
dedicarmos a concertos nenhuns, muito menos aos que não têm vínculo com o que
realmente nos interessa. Eis de que trata A
Leitura Vivida, livro bilíngue, que não sei como traduzir.
Por fim, entreguei um exemplar do opúsculo, publicado
virtualmente pelo Clube dos Autores, para o meu amigo de letras, Israel Mello,
que também me prometeu prefaciá-lo. Vamos aguardar!
O seu autor,
João
Rosa de Castro.