BOCCA
CHIUSA
Deixe de reter o teu
gesto,
Já ouço o teu suave
sussurro
E sinto o teu perfume
daqui mesmo.
Da minha solidão ao
teu seio
Há apenas um desejo e
um anseio.
Tu, que lânguida
chamas
Eu, que te afago a
pele
Tão virgem do meu
toque.
Nós: duas forças em
choque
Num calor que se
iguala
Depois do súbito contraste,
Experimentamos
juntos o alívio de um sonho bom.
OFICINA DE FICÇÃO
Oficina de Ficção era
para ser um compêndio, como de fato é, do que não há como ensinar. Literatura
não se ensina – se vive. Eu estava apenas “tentando” fazer valer o princípio do
senhor Nietzsche para o ofício de “escritor”. Este qualificativo só pode ser
outorgado pelos leitores de um homem
ou de uma mulher, não por si próprio. Escritor não é profissão. Não se escreve
para o próprio sustento orgânico ou material, que letras não dão pão.
De maneira que a observação da vida e do mundo,
nomeadamente a pesquisa, a reflexão em torno dela, sua abertura para o debate,
os encontros, ir aos encontros, ir ao encontro de alguém, conversar, ouvir,
falar, ler – tudo isto vem antes do escrever. E muito mais!
O ato da escrita é o efeito, nunca a causa, de uma
observação. Se lesse o meu próprio texto e a partir dele escrevesse outro –
estaria ruminando um alimento da alma. Se não se vive a vida, não se “vai ao
encontro de”, não há motivo algum para expor apenas o imaginário. Expor o
imaginário para o imaginário, já que a atividade de leitura é extremamente
imaginativa, é também imaginação, é a extrapolação do ruminar. O resultado
seria um produto tão fino e tão fluido que ficaria como a água: insípido,
inodoro, incolor, com a desvantagem de que não mataria a sede de quem buscasse a
novidade.
É por isso que em sua dura recomendação, o filósofo
determina que seria necessário passar dez anos naquelas atividades anteriores e
contíguas à escrita, para, só depois delas, ainda, publicar essas atividades, e
depois, muito depois, ainda, poder ser considerado um “Escritor”, e neste caso
talvez ele nem viva mais.
Admito que esse processo é árduo, de tal sorte que desisti
no sétimo ano, pedi arreglo e “publiquei” mesmo assim. Se fosse um exercício de
filosofia, teria perdido no mínimo três pontos, sem falar nos da qualidade da
obra.
Por sorte, não é prova nenhuma: Oficina de Ficção tenta fazer jus e responder à brincadeira de
Nietzsche com algo que pudesse ser considerado o que ele tanto buscava em vida:
um eco!
Foi muito bem traduzido para o idioma inglês pela tradutora
Elaine Cristina Albino de Oliveira. Também não tem apresentação de terceiros.
O seu autor,
João Rosa de Castro.