A TESTEMUNHA DO TEMPO
A testemunha do tempo, mecânico tempo,
Teve vergonha do que vira na cidade, sombria cidade.
Foi ao parque, foi ao banco, foi à feira.
Teve mulheres,
Amou as mulheres,
Odiou as mulheres,
Encontrou as mulheres nos braços de astronautas.
Não aprendeu a viver,
Não aprendeu a orgia filosófica
Que de longe se assistia nas janelas.
Ficava na sala, dizendo com o teclado
O que os antigos só diziam com beijos.
O que os antigos só diziam com beijos.
E uma bala de revólver, anatômico revólver,
Procurava sua testa.
A testemunha do tempo não sabia mais
Como desenhar o mundo no seu pensamento.
Teve receio do que vira no espelho, geográfico espelho.
Mas ninguém quis saber o que vivera.
Fez anotações e redigiu ensaios em vão.
A testemunha do tempo podia ter sido apenas homem…