domingo, 14 de outubro de 2018

João Rosa de Castro - Persona Non Grata

O DIÁRIO

Anda por ruas estreitas que dão na avenida.
Vê os passantes apressados esperando o sinal.
Frisa que sabe onde é norte – prescinde de bússola.
Abre o livro,
Lê o livro,
Fecha o livro.
E o sono não veio ainda.
Disfarça,
Corrompe a hora de dormir com a insônia atrevida.
Pára, pensa, fica um pouco na sala.
Corre de volta para o quarto,
Fugindo de qualquer sinal que houver de esperança.
Não tem esperança,
Não lhe dá crédito.
Confessa de si para si que a esperança roubara-lhe a verdade.
Esperança ladra e faceira e dissimulada.
Pior do que a pior mulher que já amara.
Dorme e sonha.
Tudo o que mais quer – sonha.
Tudo o que menos quer – sonha.
Sonha os restos do dia,
Coisas de um remoto passado,
Suas mais latentes vontades,
Suas vontades incubadas,
Inaceitáveis,
Inconfessáveis.
Sonha tudo de que ao acordar se esquece.
Ouve vindo da mente uma canção e outra canção.
Seu pensamento é tomado por vozes ousadas,
Intrusas,
Fugazes,
Indesejáveis, até.
Fala pouco aos amigos.
Ouve mais e exige que falem
Para que possa ouvir com interesse,
Com ajuda,
Com anseio,
Com preguiça, até.
Conta o dinheiro escondido na gaveta,
Torna a contar.
Desiste de pensar como todos pensam.
Cresce sem perceber muito,
Só repara quando vê coisas antigas suas.


João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...