CAMILLE
(à
Liliana Liviano Wahba)
O seu olhar repousa
na infinitude do tempo.
A História não o
suporta – envergonhada.
As mulheres o
confundem – cobiçosas.
Os homens o renegam –
famintos.
Não posso ver suas
mãos mágicas,
Mas quiçá
imaginá-las.
Ora exatas e
definidas
Ora selvagens e
vacilantes,
Pelo metal,
Pelo mármore,
Pela argila,
Oscilando majestosas,
Contrárias, ousadas.
Seus cabelos
despenteados
Suas rendas esquecidas.
Uma presilha? Talvez
Ou apenas um nó.
De que, Camille,
De que é feita a
loucura
Senão dum poder tão
austero
Que nunca jamais
renuncia?
Que ar é esse que
você respira?
Pronta para o vácuo
do mundo,
Que outra vida
poderia viver?
O leite – derramado.
O velho leite –
derramado.
Entre a velha Mãe de
Ferro
E uma madrasta
distraída
Você geme, e chora,
balbucia.
Entre o Pai pelos
avessos
Você foge para o
amplo
E encontra o destino,
ridículo – ingente.
Quisera sentir em
francês.
E depois o seu auto-retrato,
A Pequena Castelã,
Jeanne Criança,
A Aurora e a Prece
Devem ter causado
pavor
A escultores menores.
Você de perfil parece
tão séria
Apesar da fita
Enfeitando seus
cabelos.
Mas o olhar é o
mesmo,
Que repousa na
infinitude do tempo.