A
GUILHERME CRUZ
Se ao pé de ti me sinto frágil,
Como se conhecesses o meu rosto e a minha
máscara,
Quero que entendas o que vivo
E este meu pedido de socorro.
Temo mais o que viria sobre ti
Depois que me houvesses açoitado,
Do que o sofrimento que carrego
Pelo destino que para mim foi escolhido.
Tu não és olhado só de baixo:
Ninguém o é: a dor é a vergonha.
Ser odiado por um crime banal,
Não caber em si mesmo,
Não poder olhar-se ao espelho,
Afastar-se do amor que se merece,
Talvez o único que resta ainda sóbrio,
Uma dor que nunca foi sentida,
Que aprofunda, mas nada embeleza,
Sentar-se num trono de lata,
Sentindo o peso da coroa corroída,
No reinado de súditos tão infames,
Ser rei assim, melhor fora um coveiro
Que realça a própria vida a cada morte.
Quisera eu fazê-lo flutuar
Behaviorista eu e tu tão móvel,
Podendo confiar-me a cada gesto
Que não nasce do sim e nem do não,
Mas do ar que partilho com as gentes
E que chega até ti por mais distante.