domingo, 10 de junho de 2018

João Rosa de Castro - Amor Grátis

A GÊNESE PARTICULAR
                                            (a Flávio Gikovate)

A aproximação de dois inteiros...
Estapafúrdia!
Utópica!
Onírica!
Imperialista!
Imoral!
Conveniência!
Ultrajante!
Delirante!
Aparências!
Calculistas!
Estelionatários!
Bicha!
Puta!
Lésbica!
Loucos!
Mórbidos!
Ingênuos!
Drogados!
Desviados!
Burros!
Capitalistas!
Burgueses!
Tiranos!
Neonazistas!
Metidos!
Moralistas!
Cruentos!
Sanguinários!
Vendidos!
Pilantras!
Maus de cama!
Mal resolvidos!
Masoquistas!
Sádicos!
Infantis!
Imaturos!
Cus de ferro!
Enrustidos!
Mercenários!
Maconheiros!
Nerds!
Problemáticos!
Egoístas!
Mentirosos!
Farsantes!
Falsários!
Coprófilos!
Necrófilos!
Selvagens!
Bichos do mato!
Caipiras!
Sórdidos!
Displicentes!
Negligentes!
Mother fuckers!
Insolentes!
Arrogantes!
Prepotentes!
Idealistas!
Mas os dois inteiros fingem não ouvir tudo isso que gritam as metades humanas desinfelizes, perdidas na visão de seu dia-a-dia vazio e monótono.
Os dois amantes inteiros vão cumprindo a promessa de se encontrarem e se beijarem no meio da maloca cultural, eternamente cúmplices do grande crime de amar livremente.
Os dois amantes inteiros são a razão e o sentido da existência humana. Respeitam-se, adoram-se, querem-se bem – virtuosos. Trocam entre si e barganham a riqueza da individualidade. Trocam entre si o que jamais seria encontrado alhures.
Trocam entre si o peso de viver, sentido de forma diversa.
Trocam entre si o alívio momentâneo de uma notícia esperada.
Trocam entre si o que no outro embeleza os dias.
Não se invadem.
Não se fundem.
Não se confundem.
Riem entre si.
Sentem inteiros.
Pensam inteiros.
Enfrentam o pior lado da alma.
Amam como podem.
Gozam como podem.
Desculpam-se.
Culpam-se.
Desculpam-se.
Culpam-se.
Sabem-se.
Aconchegam-se.
Se agradam.
Os dois amantes inteiros silenciam – sometimes – e contemplam o outro até que ele se envergonhe.
Guardam segredos.
Pedem segredos.
Compram e vendem segredos mutuamente.
São para os olhos um do outro o imenso monumento de mistério.
Nunca se negam.
Nunca se renegam.
Aceitam-se.
Ouvem atentos um ao outro.
Nunca se conquistam.
Sempre se conquistam.
Nunca se conquistam.
Sempre se conquistam.
Não se vingam – ofendem-se originalmente, porque às vezes estão desatentos.
Mas se desculpam e sublimam a frustração da ofensa. Transformam-na em um objeto de pudor.
Nunca competem.
Nunca se invejam.
Recomeçam tudo de repente.
Não são dados à tortura.
Exorcizam um do outro o medo súbito que surge.
Nunca ameaçam.
Nunca chantageiam.
Conversam e se descontraem.
Têm amigos.
Não se cobram – por que os beijos verdadeiros não se pedem.
O sexo dos amantes inteiros será eternamente complexo, nunca metódico, jamais sistemático – humano.
Quem tomará a iniciativa?
Os filhos dos amantes inteiros também são inteiros – a inteireza é hereditária.
Os amantes inteiros sempre são belos porque honestos.
Sua beleza não corrompe a honestidade.
São honestos consigo e com o outro paralelamente, simultaneamente; como se cada um fosse naturalmente dois.
Os amantes inteiros adquirem no tempo uma vaidade saciável e, portanto, sentem-se belos em todas as idades.
Acreditam que se merecem fenomenalmente.
Às vezes, se escondem dos gritos do mundo para invocarem a sua gênese particular; mas voltam para os gritos do mundo, mais vigorosos e prontos para um novo começo.
Sabem começar harmoniosamente.
Nunca são superficiais em nada do que sentem ou pensam. Pode-se ter esta impressão, pois eles sabem o momento de interromper e substituir o sentimento ou o pensamento por uma questão de sobrevivência – assim como sabem quando é bom aprofundá-los.
Sentem-se bem com o poder; foram feitos para orientar os que gritam.
Reconhecem as próprias fraquezas; porém não as aceitam.
Dando os trâmites por findos, os amantes inteiros são livres, porque sempre têm consciência do espaço que ocupam no mundo; e o mundo há que ser povoado por amantes inteiros.


A TECNOLOGIA E A CRIAÇÃO POÉTICA

Este livro era intitulado “A Tecnologia e a Composição Poética e Musical”. E, com efeito, era composto de duas partes, com a dissertação inicial do músico violonista, e mestre em letras, João Paulo Feliciano Magalhães, além da minha, que trata da Criação Poética em meio eletrônico.
Entretanto, como ele precisou se ausentar por uns anos do trabalho exercido em dupla, e, em eu tendo de publicar a obra para todos, decidi excluir a parte que tratava da música, já que não poderia responder por ela em sua ausência.
Iniciou-se como uma monografia de iniciação científica. Acolhe a poesia no mundo da ciência e da tecnologia, sem deixar de considerar sua amplitude artística, sua tradição, sua gama de possibilidades reflexivas, diferentemente da ciência, que as pode limitar.
É livro que teria levado Jean Jaques Rousseau, e sua supervalorização da virtude natural humana, filosófica e religiosa, a um ataque de nervos. Uma vez que tanto a influência da arte como a da ciência são pensadas em seu discurso como sendo deletérias para o desenvolvimento virtuoso e vigoroso de um povo.
É claro que vale a pena considerarmos essa reprovação de ambas antes de as glamourizarmos. Porém, faço aqui, mais uma vez como Nietzsche, e contorno sua reprovação, chamando a arte escolhida para análise no livro, de gaia arte, a exemplo de como o filósofo nomeia a sua Gaia Ciência.
De certo modo, o livro já se ultrapassa com os anos: os percentuais de acesso à tecnologia da informação tiveram um bum, ainda que a poesia, conforme a própria obra anuncia, acompanhe, como acompanhará, qualquer bum.
Eu tinha pensado em manter seus números atualizados. Mas creio que apenas farei uma nova revisão para uma segunda edição, no caminhar das transformações por que passa a minha obra como um todo.

O seu autor,

João Rosa de Castro.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...