domingo, 3 de junho de 2018

João Rosa de Castro - Amor Grátis

BOCCA CHIUSA
Deixe de reter o teu gesto,
Já ouço o teu suave sussurro
E sinto o teu perfume daqui mesmo.

Da minha solidão ao teu seio
Há apenas um desejo e um anseio.

Tu, que lânguida chamas
Eu, que te afago a pele
Tão virgem do meu toque.
Nós: duas forças em choque
Num calor que se iguala
Depois do súbito contraste,
Experimentamos juntos o alívio de um sonho bom.


OFICINA DE FICÇÃO

Oficina de Ficção era para ser um compêndio, como de fato é, do que não há como ensinar. Literatura não se ensina – se vive. Eu estava apenas “tentando” fazer valer o princípio do senhor Nietzsche para o ofício de “escritor”. Este qualificativo só pode ser outorgado pelos leitores de um homem ou de uma mulher, não por si próprio. Escritor não é profissão. Não se escreve para o próprio sustento orgânico ou material, que letras não dão pão.
De maneira que a observação da vida e do mundo, nomeadamente a pesquisa, a reflexão em torno dela, sua abertura para o debate, os encontros, ir aos encontros, ir ao encontro de alguém, conversar, ouvir, falar, ler – tudo isto vem antes do escrever. E muito mais!
O ato da escrita é o efeito, nunca a causa, de uma observação. Se lesse o meu próprio texto e a partir dele escrevesse outro – estaria ruminando um alimento da alma. Se não se vive a vida, não se “vai ao encontro de”, não há motivo algum para expor apenas o imaginário. Expor o imaginário para o imaginário, já que a atividade de leitura é extremamente imaginativa, é também imaginação, é a extrapolação do ruminar. O resultado seria um produto tão fino e tão fluido que ficaria como a água: insípido, inodoro, incolor, com a desvantagem de que não mataria a sede de quem buscasse a novidade.
É por isso que em sua dura recomendação, o filósofo determina que seria necessário passar dez anos naquelas atividades anteriores e contíguas à escrita, para, só depois delas, ainda, publicar essas atividades, e depois, muito depois, ainda, poder ser considerado um “Escritor”, e neste caso talvez ele nem viva mais.
Admito que esse processo é árduo, de tal sorte que desisti no sétimo ano, pedi arreglo e “publiquei” mesmo assim. Se fosse um exercício de filosofia, teria perdido no mínimo três pontos, sem falar nos da qualidade da obra.
Por sorte, não é prova nenhuma: Oficina de Ficção tenta fazer jus e responder à brincadeira de Nietzsche com algo que pudesse ser considerado o que ele tanto buscava em vida: um eco!
Foi muito bem traduzido para o idioma inglês pela tradutora Elaine Cristina Albino de Oliveira. Também não tem apresentação de terceiros.

O seu autor,

João Rosa de Castro.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...