domingo, 17 de junho de 2018

João Rosa de Castro - Amor Grátis

RODA QUADRADA

Procuro em meu ser um poema
Limpo e irretrospecto,
Doce e útil,
E não encontro.
Um pedaço de pensamento
Livre de mim mesmo,
Flutuante como plumas ao vento,
Leve como os anjos voláteis.
Procuro em mim mesmo um poema.

Preciso dum poema virgem.
Fora de qualquer movimento,
Além de qualquer momento
Sem a lembrança do vivido,
Descrevendo um jardim florido
Por força dum fenômeno novo.
Preciso dum poema morno.

Pudera escrever sorrindo
O de se ler ou sentir
Com um sentido só de agora,
De nova arte imensa aurora,
Um verbo fino e irredutível,
Nem tão feliz nem tão triste
Um tal poema eu sei que existe.




SONHOS CENSURADOS

Li A Interpretação dos Sonhos, de Freud, e precisei transcendê-la. Questionava de mim para mim por que sonhávamos o desejo reprimido. E, longe de libertar os desejos como se fossem pássaros engaiolados que me sabem ao desejo de Deleuze, resolvi retê-los ainda mais nos sonhos que os trazem, como se fossem víboras perigosas. Donde ter surgido para mim este título: Sonhos Censurados.
Porém, em vez de reprimir mais ainda os desejos, e apenas analisar o sonho como é, o livro reflete sobre a aparição desses desejos no sonho. Ingada, por exemplos, em cada sonho que analisa: por que não realizar [ou ter realizado] esses desejos na vigília? Por que o desejo havia sido reprimido? Por que geralmente convirá continuar reprimindo-o ou censurando-o, agora, depois da interpretação, de maneira consciente?
De modo que, depois de uma considerável reflexão sobre a descoberta do desejo, convinha a mim avaliar se o desejo realizado no sonho era censurável ou não – e dependendo do que, nas duas hipóteses.
Não publicaria este livro por considerá-lo assaz ininteligível, inútil e particular. No entanto, depois de ver a filósofa Olgária Matos anunciando o “desastre” que o desejo representa, resolvi repensar e considerei a publicação de Sonhos Censurados, depois de alguma revisão para torná-lo um pouco mais palatável. Poderia também alargar a perspectiva e intitular o livro de Desejos Sublinhados, mas isto demandaria mais tempo e possibilidades do que simplesmente censurar o desejo no bojo do sonho.
O modelo de Sonhos Censurados acompanha o de Freud, acrescendo porém a tentativa de censurar os desejos reprimidos de maneira consciente, no afã de realizar alguma catarse. Com efeito, Freud deve ter meditado sobre a “responsabilidade” de deixar os desejos fluírem livremente. Que adorava sonhar e interpretar os próprios sonhos.
Eu, porém, acredito ser este expediente muito arriscado. Já acreditava nisto antes de conhecer a relação citada de “desejo” e “desastre”. Pois para quem gosta de correr algum perigo, basta ler A Interpretação dos Sonhos, de Freud, que ela bastará para elucidar o movimento dos sonhos na psique. Sem esquecer, porém, que é mais fácil lidar com a consciência do que com a reputação.
De sorte que, quem for mais amigo de evitar os perigos ou de pensar na anatomia dos desastres, recomendo os meus Sonhos Censurados. Afora o fato de que a liberação geral dos desejos tem no mínimo representado uma catástrofe nas relações sociais da nossa era, sobretudo depois do advento dos feminismos, dos ativismos e da hegemonia e pretensão das militâncias.
O seu autor,
João Rosa de Castro.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

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