POEMA DE AUTO-AJUDA
Noi
siamo tanti
Que pensamos em coro
E andamos depressa
Procurando a mãe
Protetora de
embriões.
E dizemos em cruz
O de pura libido.
E corremos sedentos
Ao que está proibido,
Laboratoriais,
Feitos marionetes
De quem guarda
mistério.
Pelas ruas tão sérios
Com sorriso no peito
Disfarçado em pranto,
Nós sentimos, no
entanto,
O próprio medo de
sentir.
Noi
siamo tanti
Que a solidão nos assusta,
E procuramos os
pares,
Os ímpares e os
lugares.
Queremos ser
populares,
Mas somos rara
escultura,
Perenes numa cultura
Ciclicamente
estática.
Nossa memória inativa
Faz crer no bom dos
dias.
O sofrimento, o vazio
Caem no esquecimento.
Fica da vida um momento,
Soma de todos os
instantes
Em que pudemos
cumprir
O eterno direito de
ser feliz.
CAMINHOS ABERTOS
Depois do carnaval de 2014, retomei contato com a mulher
que eu escolhera aos treze anos de idade para me fazer companhia na odisseia da
vida. Vivera desde aquele princípio de adolescência até o ano de 2014 pensando
que talvez pudesse vê-la, saber como tinham sido os anos passados em minha
ausência, se tinha casado, mudado da cidade, tido filhos, se tinha uma vivência
bem-sucedida no trabalho ou estava ainda, como eu, sofrendo com colegas
difíceis.
Joaquim Maria já dizia que “a vida se ganhava, a batalha se
perdia.”. E eu, querendo ganhar ambos, empolgado que estava com o reencontro, pus-me
a escrever um “Romance”. O resultado é Caminhos
Abertos: livro metalinguístico em que ao mesmo tempo em que escrevia um
“Romance”, eu vivia também um “Romance”, nos dois sentidos em que a palavra é
tomada.
Escrevia os capítulos e enviava a ela numa forma de
conquistar. Indagava se tinha gostado. Queria saber se me amava. E até hoje não
sei. Sequer sei o que é o amor. Não. Com efeito, uma mulher, um campo, não se
conquista com um poema, com um romance, com um palacete, com um beijo. Há
mulheres inconquistáveis. Eu parecia ter noção disso aos treze. Agora tenho
certeza.
Ela é dessas mulheres inconquistáveis, rebeldes, gosma de
quiabo que corre pelos vãos dos dedos, e que, em vez de se deixar conquistar –
queria mesmo era me conquistar. E naquela batalha de conquistas, quem saia na
vantagem da concorrência eram os consumidores, nomeadamente: ela e eu.
A obra é a primeira narrativa em prosa, com começo, meio e
fim; devidamente imaginosa, convenientemente mnemônica – com todos os signos da
fonologia, morfologia, sintaxe, semântica, coesão e coerência linguísticas,
etc. no lugar.
Mesmo assim, não foi mencionada no prêmio kindle de
literatura, da Amazon. Aliás, eu nem mesmo contava com nenhuma nomeação. Estava
apenas tentando, como faço amiúde.
De
minha parte, amo o romance. Leio-o e releio-o. Melhoro-o e pioro-o. Mantenho-o
vivo. Traduzi-lo-ei em tempo. Por enquanto, ninguém leu de verdade além de nós
dois.