domingo, 24 de junho de 2018

João Rosa de Castro - Amor Grátis

POEMA DE AUTO-AJUDA

Noi siamo tanti
Que pensamos em coro
E andamos depressa
Procurando a mãe
Protetora de embriões.
E dizemos em cruz
O de pura libido.
E corremos sedentos
Ao que está proibido,
Laboratoriais,
Feitos marionetes
De quem guarda mistério.
Pelas ruas tão sérios
Com sorriso no peito
Disfarçado em pranto,
Nós sentimos, no entanto,
O próprio medo de sentir.

Noi siamo tanti
Que a solidão nos assusta,
E procuramos os pares,
Os ímpares e os lugares.
Queremos ser populares,
Mas somos rara escultura,
Perenes numa cultura
Ciclicamente estática.
Nossa memória inativa
Faz crer no bom dos dias.
O sofrimento, o vazio
Caem no esquecimento.
Fica da vida um momento,
Soma de todos os instantes
Em que pudemos cumprir
O eterno direito de ser feliz.



CAMINHOS ABERTOS

Depois do carnaval de 2014, retomei contato com a mulher que eu escolhera aos treze anos de idade para me fazer companhia na odisseia da vida. Vivera desde aquele princípio de adolescência até o ano de 2014 pensando que talvez pudesse vê-la, saber como tinham sido os anos passados em minha ausência, se tinha casado, mudado da cidade, tido filhos, se tinha uma vivência bem-sucedida no trabalho ou estava ainda, como eu, sofrendo com colegas difíceis.
Joaquim Maria já dizia que “a vida se ganhava, a batalha se perdia.”. E eu, querendo ganhar ambos, empolgado que estava com o reencontro, pus-me a escrever um “Romance”. O resultado é Caminhos Abertos: livro metalinguístico em que ao mesmo tempo em que escrevia um “Romance”, eu vivia também um “Romance”, nos dois sentidos em que a palavra é tomada.
Escrevia os capítulos e enviava a ela numa forma de conquistar. Indagava se tinha gostado. Queria saber se me amava. E até hoje não sei. Sequer sei o que é o amor. Não. Com efeito, uma mulher, um campo, não se conquista com um poema, com um romance, com um palacete, com um beijo. Há mulheres inconquistáveis. Eu parecia ter noção disso aos treze. Agora tenho certeza.
Ela é dessas mulheres inconquistáveis, rebeldes, gosma de quiabo que corre pelos vãos dos dedos, e que, em vez de se deixar conquistar – queria mesmo era me conquistar. E naquela batalha de conquistas, quem saia na vantagem da concorrência eram os consumidores, nomeadamente: ela e eu.
A obra é a primeira narrativa em prosa, com começo, meio e fim; devidamente imaginosa, convenientemente mnemônica – com todos os signos da fonologia, morfologia, sintaxe, semântica, coesão e coerência linguísticas, etc. no lugar.
Mesmo assim, não foi mencionada no prêmio kindle de literatura, da Amazon. Aliás, eu nem mesmo contava com nenhuma nomeação. Estava apenas tentando, como faço amiúde.
De minha parte, amo o romance. Leio-o e releio-o. Melhoro-o e pioro-o. Mantenho-o vivo. Traduzi-lo-ei em tempo. Por enquanto, ninguém leu de verdade além de nós dois.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...