TITÂNICAS
SAUDADES
Diz, meu monstro
escondido.
Que
queres dizer?
Que és nascido na
barbárie?
Isso a mim não é
novidade.
Diz algo novo, meu
monstro.
Sei que quando falas
és nutrido
De uma esperança de
ser,
Mas adianto: não
serás.
Quero apenas que me
contes
A tua chateação deste
momento,
O que se passa no teu
duro coração,
As imagens que vês,
trancado no escuro.
O que pensas em
destruir,
A alegria que
tentarás corromper.
Diga, meu monstro
escondido,
Que queres lamentar?
O impossível elogio
da tua utilidade?
Tu és a fonte de toda
espécie de vergonha.
A moral à espreita
Tenta distinguir-te,
Tenta extinguir-te.
Tu não tens lugar no
mundo sem arte.
Seria preciso
enlouquecer metódico.
Seria preciso
desistir por completo de respirar os ares da vida
Para que tu
assumisses o poder que me pertence...
Mas rezam os ecos da
natureza:
“Os monstros são os
meus anjos na escuridão”.
ORDEM E RETROCESSO
A ordem deste romance futurológico e, ao mesmo tempo,
histórico não leva ao progresso, assim como muitas ordens que pretendemos
progressivas.
Não é matemática a natureza da vida em sociedade. Essa
causa e efeito são apenas inferidas na ilusão. Nossa barbárie não permite mais
pensarmos em causalidade. O mundo ficou surreal como uma obra de Salvador Dali.
Augusto Comte perde contato com a realidade a cada esforço que alguém tenta
fazer para obter “progresso”. Ao mesmo tempo que o lema de nossa atual bandeira
permite pensarmos melhor aquele livro do Eclesiastes – mais realista do que o
positivista francês, apesar dos fumos científicos.
Com isto quero dizer que, tanto é certo que alguém que
mantenha a ordem obtenha daí o retrocesso, como o é que alguém que mantenha a
desordem obtenha o progresso. Principalmente depois do feminismo. Apesar de que
a nossa natureza não impeça que alguém também obtenha, eventualmente o
progresso resultante da ordem ou o retrocesso da desordem.
Por isso que me foi, não apenas fácil, como também
agradável escrever Ordem e Retrocesso,
e escrevi-o em menos de um mês, de um só fôlego. A tirar o maior sarro do
passado, do presente e do futuro: da lógica e de Logos. A escolher para limite,
no plano do conteúdo, a primeira hipótese do parágrafo anterior.
É meu segundo romance. Tem seus limites como todos os meus
livros. Aliás, como todos os outros, tem mais limites do que métodos. Se é que
se pode separar método de limite.
Também foi para avaliação no segundo prêmio da Amazon. Sem
nenhum progresso, aliás. Mesmo assim, faz muito sucesso no círculo conjugal
entre mim e os amigos. Agora participa do prêmio São Paulo de Literatura e será
traduzido na época devida.
O seu autor,
João
Rosa de Castro