domingo, 8 de julho de 2018

João Rosa de Castro - Amor Grátis

O RIDÍCULO

O ridículo abre a porta e invade o espaço.
Como é bom rir, dando vazão à utilidade.
Mas o ridículo é tão inútil.
Mas o ridículo é tão hipócrita
Que já não cabe em nenhum ambiente.

Com o tempo, quando ele vencer pelo cansaço
Do seu fedor de nicotina,
Do seu olhar doente e distante,
Do seu silêncio avaro
E sua voz tão sublime e econômica,
Sucumbiremos a ele compadecidos.

Ele, tão inerte,
Tão pernóstico,
Tão underground,
Fará de conta que é amado,
Mais do que faremos que o amamos.

Oh, meu “Deus”, por que esses seres horripilantes resistem tanto às conspirações? Não disseste que a nossa voz era a tua voz? O que faremos com essa criatura que não ouve voz alguma, como se os seus sentidos subitamente ficassem suspensos a uma altura que não alcançamos?

O ridículo saiu e não percebeu absolutamente nada!


SEDA RAIOM

Não sou bairrista nem tão saudosista para desejar estar nas Perdizes novamente, nem viver os anos 30 ou os 50. Gosto da Vila Curuçá hoje, e o melhor está por vir. As pessoas daqui são tão severas quanto alhures. Com a diferença de que com a proximidade com a Arena Corinthians, temos batucada, cervejada e churrasco quando o timão vence, o que, graças ao meu pai, acontece com frequência. Com outra diferença: as pessoas daqui se sentem mais solitárias, muitas abandonam o bairro, como eu abandonei por uns anos. Depois retornam, e vem o paradoxo. Ou ficam por lá mesmo – e vem a identificação contraditória.
Abandonamos quando queremos diversão. E a Vila é lugar de trabalho e reflexão independente. Restou-me apenas um amigo a quem poderia revelar alguns segredos escabrosos e de quem ouviria outros tanto quanto. Uma jornalista, conhecida das imediações, disse-me uma vez que por aqui não há ninguém com quem se possa travar uma amizade.
É assim, nós vivemos nos odiando e falando do tempo como se fôssemos meteorologistas, e de futebol como técnicos. Ouço e leio gente que se pensa badalada, porque está falando na mídia, que as periferias como a nossa “têm gente muito boa”. E fico me perguntando (sem acesso à mídia, é claro!)… Que tipo de gente as pessoas pensam encontrar na Europa, na Ásia, na Oceania, por exemplos?
Creio que nos colocam como extraterrestres porque “estamos longe”. No entanto, confesso que hoje me sinto confortável porque me sinto mesmo é longe do populacho. Aqui só tem gente fina. Gente que não se mistura: seja na favela seja no condomínio mais bem-arranjado.
Quando usamos o serviço público, somos mais críticos dele do que o Antônio Cândido era da literatura brasileira. E é assim que nasce o Seda Raiom.
O livro tenta arriscar numa avaliação de como me parecem as gentes da Vila Curuçá, sua cultura, sua arquitetura, sua música, seu comportamento, indumentária, alimentação, etc.
E cada vez que leio a obra me encanto mais com estas gentes, quer apareçam carrancudas e fechadas ou desabridas e engraçadas – é gente como qualquer gente que se acha pelo mundo, mas é uma gente única, porque é a gente Curuçá: meu berço, minha ciclovia, meu parque, meu sertão.

O seu autor,
João Rosa de Castro

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...