domingo, 9 de setembro de 2018

João Rosa de Castro - Persona Non Grata

TRIGO

Sem arte.
Sem pão.
Sem sermão.
Sem pensar.
Tudo na ordem natural.

Sem plano.
Sem planta de casa.
Sem mapa.
Sem vergonha.
Tudo na ordem natural.

Eu prendo-me ou corro

Sem vítimas.
Sem dívidas.

Sem repetir:
Quem vai, vai;
Quem volta, também vai.
Sem expectativas.
Tudo na ordem natural.

Sem grana.
Sem cinema.
Sem dúvida.

Todos os transeuntes são meus ídolos!

Sem autógrafo.
Sem fotografia.
Sem escândalo.

Ou pego o besouro;

Sem vexame.
Avenida Águia de Haia.
Avenida Imperador.
Sem dor.
Tudo na ordem natural.

Seis artes.
Seis artes!
Sem sete.
Sem oito.
Sem mentira.
Sem nome.
Sem fome.
Sem concordância verbal.
Sem coerência civil.
Tudo na ordem natural.

Sem pós-conceito;
Mudar – transferir o pensamento para a próxima imagem.
Sem pré-conceito.
Sem fugir.

O rio rasga-se – dois torna-se;

Sem muito medo.
Sem muito orgulho.
Sem inteligência.
Sem pânico.
Tudo na ordem natural.

Mergulho no silêncio do imenso oceano.

Sem tédio.
Remédio!
O ornitorrinco vê menos gente.
Sem a mente mentindo,
Só o coração batendo.
Tente, tente, tente.
Sem peso.
Leve, leve, leve.
Sem desespero.
Tudo na ordem natural.
Eu torno-me um dos dois que era.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...