URBANAMENTE
Não há que ventar no laboratório urbano
Nem é preciso que nas casas haja janelas,
Porque na corrida contra o tempo
As paisagens não são notadas.
Observa-se apenas o espaço em que se cabe.
O chão em que se pisa,
O vão por que se passa.
Não hão de florir as árvores na primavera.
Nossas narinas se atêm aos aromas do metal.
Tudo é um painel repleto de botões.
Laser e sensores e telas e twitters,
Fazendo amor com a gente de muitas maneiras.
Não precisa mais ouvir ninguém cantar.
Grava. Salva. Sintetiza. Masteriza. Mixa. E amanhece,
Bebendo um drinque colorido
E acariciando a pele, o peito que se oculta na penumbra.
Não precisa mais sair para ver o mar,
Pois o aquário tecnicolor, ruidoso,
As ondas do rádio,
Os biquínis da tela,
A nudez do outdoor
Nos encantam,
Nos guiam
E nos fazem adormecer.
Não precisa mais ouvir ninguém cantar.
Grava. Salva. Sintetiza. Masteriza. Mixa. E amanhece,
Bebendo um drinque colorido
E acariciando a pele, o peito que se oculta na penumbra. Na penumbra!