OS
DEUSES ENFASTIADOS
Os frutos aguardam o outono
E os pensamentos a robustez do meu coração.
Lentamente
As imagens que vejo se transformam
No que meu olhar busca.
Sinto-me rejuvenescer rindo da própria fortuna.
As pessoas me vêem como um ente de rara
presença.
Lentamente
Os carros ficam mais velozes
O povo se atropela nas calçadas estreitas,
Os manos dançam bombados, cheirados,
extasiados, nas raves mais nervosas
ao luar.
As minas copiam afoitas os gestos das melhores
E a beleza mais uma vez se oculta na
coletividade.
Lentamente
Giram as bobinas dos jornais, depressa e mais
depressa.
As operárias rasgam o frango aos milhares em
uma única hora.
Lentamente
O mundo visto à distância torna sonolentos os
deuses enfastiados.