AINDA
HÁ POUCO
(à Cristina)
Ainda há pouco,
O chão da rua não
reconhecia os seus passos,
As flores do jardim
opulento zombavam da sua sombra.
Ainda há pouco,
A lembrança de um sonho
tão lírico, tão intenso, tão andaluz
Assaltava a sua
memória exausta,
Com vielas, caminhos
tortuosos e tudo mais que te fizesse distante.
Ainda há pouco,
A sua pele – alva
epiderme – coberta pelo negro do tecido desprezível,
Não se notava,
ninguém adivinhava – você parecia invisível.
Ainda há pouco,
O relógio chamava
atenção com seu tique-taque em silêncio – inexorável.
O Tempo triunfante
ria-se do seu movimento humano, apenas humano.
Ainda há pouco,
Seu coração
esperançoso era o seu único companheiro,
A espalhar por todo o
seu corpo o líquido tão escarlate, tão vital, mas você quase chorava.
Agora,
Até mesmo o mais
ínfimo fio de cabelo dividido
Faz parte do brilho
da rica cena que encanta os sentidos mais vulgares.
Agora,
Até mesmo seus
tornozelos expressam uma beleza sem par,
Explodindo com seus
pés todo o espírito ao chão.
Agora,
Seus dedos, suas
mãos, seus braços, o peito e o corpo
Inspiram o
desabrochar das mais belas, das mais raras flores da primavera.
Seu peso não pesa no
mundo, não fere a gravidade, como se você flutuasse.
Agora,
Tudo em você
resplandece, qual sol iluminando planetas.
Agora,
Você
está dançando...dançando...dançando...