RACHEL ÀS VEZES SE
REBELAVA
Não
me queiras malbaratar as sutilezas do monumento humano que é meu bailar; não bailo
involuntária ou inconsciente como respiro, ou por acaso, como as periguetes
rebolam; não é articular-me como se digerisse, como se sonhasse, como se
morresse. Não malbarates um monumento humano, que é assim humano, assim
monumento, pois age no mundo tanto como qualquer monumento anseia como quanto o
que há de mais humano acomoda, assimila, devaneia – bailar não está possível
para sequer uma fotografia, para uma película inteira, tampouco para a tinta e
os dedos de um reles poeta; bailar não se malbarata, não se compara; não se
vende abaixo nem acima de custo, nem com prejuízo, muito menos lucro injusto; bailar
não se emprega ou se gasta inconvenientemente; não se dissipa, não se
desperdiça.
Não
me venhas desbaratar as nuanças do panteão clemente que me são os ritmos dos
movimentos; não me movo independente da minha vontade ou na emergência de
viver; sequer fortuita como uma perua galinha saracoteia; são se trata de unir
partes do meu corpo como se macerasse rochas no estômago, como se onírica, apontasse.
Estou
para não me alcançar nada o mérito – talvez o silêncio me pague, ou as
andorinhas de abril!