ODE À AURORA
(à
Maria Ferreira Silva)
Se eu fosse uma
mulher, seria como a Aurora.
Diria que tudo
ao nosso redor está uma pouca-vergonha;
Tudo
é uma ignorância,
Tudo
é hipocrisia,
Tudo
é privilégio de poucos;
Ninguém
tem responsabilidade.
Se eu fosse uma
mulher, amaria como a Aurora.
Devoraria,
Maltrataria,
Acariciaria,
Condenaria,
Chamaria
para dentro de mim e expulsaria de dentro de mim.
Se eu fosse uma
mulher, mudaria como a Aurora.
A cor das
paredes,
O
caminho para casa,
Os
móveis,
As
profissões: mesmo que me rebaixasse,
A
música que ouvisse – mesmo que só andasse com as multidões;
Desde
a arquitetura da minha calçada – até a arquitetura da via-láctea.
A Aurora é a
Liberdade guiando os homens.
Se eu fosse uma
mulher, desejaria como a Aurora.
A aura dos
homens e a sua companhia desprezível.
Um
dos netos,
Um
dos filhos,
Um
dos irmãos,
Um
dos genitores,
Um
dos arvoredos, dos copos, dos chás.
Se eu fosse uma
mulher, riria só como a Aurora.
Uma
risada patente,
Uma
desgraça muito alheia,
Uma
simples piada no vídeo,
Sem
me importar, sem humor-negro – com inocência.
Se eu fosse uma
mulher, rezaria como a Aurora;
Com
as mãos para o meu “Deus”, que ninguém visse,
Que
ninguém conhecesse.
Teria, como a
Aurora, um “deus” único,
Exclusivo
para mim.
Que me
sussurrasse tudo ao ouvido como canção de ninar nas épocas de bem-aventurança
Ou
como trovões no meio da guerra, para que eu corresse, gritasse, avisasse a
todos sobre o perigo.
Se eu fosse uma
mulher, me vestiria como a Aurora – nem virginal nem periguete.
Faria, como a
Aurora, uma surpresa sempre.
Como se me
casasse a cada dia com o mundo.
Ah se eu fosse
uma mulher!
Seria uma
eterna Aurorinha.
Admirada do esplendor
da grande e amada Aurora…!