ILÚDIO
Sem forma e solto
Nada há que com meu
corpo se identifique.
Sou uma ilusão quase
binária – quanta.
Mas preciso me
descrever para mim mesmo.
A invisibilidade não
basta.
A sutileza não
alcança o meu nome.
É preciso saber que
eu me movo no espaço,
Num dado espaço.
Porém ainda não sou
célula.
Por enquanto fluo nos
canais
Dum adorável playground
De peças firmes e
cinzentas.
Nem sempre se almeja
transformar-se
Na minha condição, eu
ficaria eterno e feliz.
No entanto a
fatalidade me torna outra espécie
E outra espécie e
outra espécie.
E a cada etapa disso
que evolução chamam,
Vou-me acostumando
com espécies irmãs.
Tudo, na realidade,
se acomoda e adapta.
Vou vendo os símbolos
ao meu redor
E, por fim, participo
desse movimento involuntário.
Um caos. Um tal
sentir-se cair e erguer-se de um modo cego.
Sem certeza e apto.
Em qualquer instante,
ganharei outra consciência.
Uma liberdade que
intensa deixa.
Eu que sucumbo e
sinto.
Sentir. Rolar.
Gota de orvalho lenta
na dada e limitada pelo espaço pétala.
Parece que por trás
um sacudimento empurra e pára quando tento descobrir o que sacode. Eu sou
sacudido.
Às vezes tenho a
impressão de roçar a mesma saliência que já roçara.
Não tenho certeza alguma.
Apenas desejos fortuitos.
Suspenso e
malabarista fico.
Continuo numa jogação
sem respirar; sem morrer, no entanto.
A presença disso, que
obstáculo dizem,
Não me impede de
vivenciar a abundância do
Ser
Quase nada aqui me dá
orgulho e não me dá vergonha.
Deixa ver de que se
preenche com coisas alheias.
Tudo de uma suave
lentidão que não se vê.
Nem na paciência da
compacta água que para si tudo retém.
A ordem dos
acontecimentos não me cansa como pressinto vai cansar.
Por enquanto o
segredo se mantém.
O futuro surge como
uma rocha e se mantém.
Outras
particularidades da vida vão-se
achegando e me tomando também.
A mentira, a verdade.
Concretamente protestando cada uma para si. Achar.
Assim, eu vivendo
semi-macunaimicamente, o Deus chega.
O que acontece quando
o Deus chega?
Uma proposta
interessantíssima para eu ser gente.
Gente?
Gente!