PRELÚDIO
Toca todo mundo,
Toca arrumar carro,
Toca o Deus querer
Que eu seja gente.
Toca acreditar que eu
preciso.
Está na hora.
Demorou! Demorou!
Toca subir, descer
Ruas e passarelas.
Eu não sei o que é
isso.
Eu não vi, não vejo.
Não ouvi, não ouço.
Não senti aromas, não
cheiro.
Não comi, não como.
Só senti – sou quase
corpo.
O Deus explicou;
O Deus trouxe telas;
O Deus exibiu
diagramas em braile
Para ir me convencendo,
Para ir-me caçando,
Para ir me-rompendo.
Toca aparecer
astronautas,
Flutuando sem medo,
Cavalgando em jegues
E rinocerontes.
E espalhando poeira.
Eu sem saber,
Sem desespero,
Com desprezo, não
entendia.
O Deus dizia
“Demorou!”
O túnel claro e rijo de
paredes
Com cerdas
aparentando samambaias azuis.
Tudo era dito no
silêncio dos toques.
Na boca me puseram e
eu girei.
Espiral! Espiral!
O tempo é espiral!
Eu não sabia o que
estava
Acontecendo no playground!
Espiral!
Espiral!
Maracujá e chuchu!
O tobogã sem destino
Tinha destino em
pessoa!
Espiral! Espiral!
Zona norte. Zona
leste.
Passavam lugares
embaixo de mim.
O túnel era longo: almost endless.
E tudo ficou para
trás,
E tudo na boca
distante:
A promessa,
A jura,
A mentira,
A verdade,
Os astronautas
E o Deus.
Dali
a pouco eu ia ser ser.