A DOR
Que dias completos
De solidão sem lamento!
Eu não sei-me só
Pois ouço ruídos.
Não sinto-me só
Porque a memória
Dá fotografias;
Porque as imagens
Já são companhia.
Porque os sabores
Que descem a língua,
Somada a saliva,
Transformam-me
inteiro.
Que horas tranquilas
As minhas de hoje.
Cinema ligado,
Janelas abertas,
Pessoas passando,
Cidades nascendo.
Eu sinto que empurram
Meus pés em silêncio.
E o Deus aparece
Para esclarecer
O que acontece
Do
lado de fora.