VIVENDO
O leite toca o palato
E os pés ardem.
A minha seriedade é
tão inabalável que choro.
Você me acaricia, faz
brincadeiras com canções e fonemas.
Mas não alcança
agradar-me.
O que é isto que é o
mundo?
O seio, a boca, o
queixo, sim, dizem.
O perfume e a maciez
da pele encantam.
Canta de novo,
rainha.
Conta o teu sonho em
silêncio.
Por que me olhas com
medo?
Sai de mim e vem para
mim.
Me embala e me
esquece.
Seja uma e outra a um
só tempo.
O ar que inspiro e
arremesso.
Cumpra, pois, o
impossível.
Traduza agora o
indizível.
O leite vacila na
língua.
Os lábios desenham
paisagens.
O deus faminto e
voraz
Que sou, que penso e
resisto,
De colo em colo
resido,
Querendo, amando e
sendo.
E se aproximam e eu
temo
Num gesto de
persistir.