O PEQUENO
Vejam só o que fiz
com os meus pés.
Espalhei a cenoura
cremosa
E a mandioca amarela
Misturei a aguinha,
pisei
E deixei o chão com
uma arte.
- O papai do céu não
vai gostar.
- O papai do céu vai!
Ele não gosta de arte?
E com minhas mãos
arranquei o sapatinho branco e pus na boca.
Bati na borda do
berço.
Quis rasgá-lo com a
boca.
Pra que sapato?
E a camisinha nesse
verão apertando.
E eu tendo pueril
impaciência.
Querendo a
independência.
- O papai do céu não
vai gostar.
- O papai do céu vai!
Ele não é impaciente?
Com trovões
repentinos
E chuvas
enchenteanas,
Tiros de revólver,
Porrada!?
- Só Ele pode ser
impaciente.
E eu engatinhando e
andando capenga, segurando pelas paredes e pelas portas dos armários, parando
às vezes distraído com alguma coisa que brilhasse.
- Papai do céu não
gosta.
- Gosta, sim. Ele não
anda plantando florestas, lutando com dinossauros, empurrando aqui e ali
continentes, soprando os rios para os mares?