A ANTENA
O fio elétrico em
curto
Deixou a fórmica
manchada.
Os dedos de Luciana
Traziam anéis
selvagens.
O relógio como sempre
O relógio como sempre
Dava o tempo com os
ponteiros dele.
Sempre apareciam
colunas.
Sempre despontavam
árvores
E os postes rasgavam
as calçadas.
Os pés da mesa.
Os puxadores dos
armários,
Os parafusos.
Paisagens minhas.
Os retratos altos,
distantes da minha cabeça.
A ponta da faca.
A ponta do prego.
A ponta da mesa.
A ponta do pão.
A ponta do lápis
dizia tudo.
Os cabelos elásticos
De Luciana cheiravam
a eucalipto.
No rádio Elis cantava
e dizia.
No rádio a Clara
sambava com as ondas.
E sua voz rodava
debaixo daquela agulha.
Os Bitous, Excelcior,
o fanque – Vitrola.
Sons da vida.
Tons do mundo.
A brega canção.
A briga de amor.
Ninguém tinha tempo
pra filosofar.
Uma guerra rondava os
corações ao meu redor.
Mas tão disfarçada,
Mas tão mascarada,
Mas tão incansável e
sutil
Que eu via, mas não
podia provar.
A agulha que furava o
pano.
Os garfos nas mãos eu
via.
As unhas nem sempre
pintadas.
Uma ameaça.
Uma força me dizia:
“Você vai ficar sem
nexo.”
O nexo em Luciana eu
não via.
Luciana parecia
sóbria
E dizia que eu também
um dia
Ficaria assim vazio.
O medo tomou meu
espírito.
A compaixão se
apossou de eu.
Ela foi roubada,
Mim também será.
Com ela ficou o
passado de tragédia.
Comigo
o futuro assustador.