domingo, 6 de agosto de 2017

João Rosa de Castro - Zum

CARRUAGENS DE ONTEM
                        (Primeiro poema do primeiro livro, escrito no começo da década de 90)

Por que tenho de querer mais
Se tenho o céu a assistir-me
E estrelas tão sinceras
Adentrando-me a janela?

Por querer mais do que a lua
É que posso ver-me homem.
Por querer a sobremesa
Que sequer a mesa espera.
Dai um doce, pois os beijos
Só depois de tuas tetas.

Por que tenho de querer
E rejeitar a leve brisa?
Se meu rosto refrescou
Não senti, nem percebi.
Nessa ânsia, na ganância,
Eu quis tanto estar aqui
Mas agora vou-me embora.
Não me encantas mais, aurora.
Se eras bela, já parti.

Por que não este momento
Se é real e o mais honesto?
Por que quero ver incesto
Se já tenho namorada?
Por que não a alvorada,
Esta aqui na minha frente
Acenando o meu presente
Com as duas mãos atadas?
Eu clamando o meu futuro
Não morri, ainda perduro
Farejando as vivas rosas
Dum passado já tão velho.
Como dói ser um humano
E honesto na cegueira
Desdenhando as cachoeiras
Por paragens dum deserto.


Não queria querer mais
Do que as ondas incessantes
A dançar com o horizonte
Que não vejo pelos olhos.

Não queria nem querer
Mas eu quero por abuso
Dum poder que não me excita;
Nem a fala nem a terra.
Não espero tua visita.

Por que não esta cidade
Se só ela é agora
Meu cenário, minha flora,
Minha fauna tão bonita?

Não queria que estes olhos
Só pudessem ver imagens
Doutro dia, outra hora
E não vissem as carruagens
Que passeiam a minha volta
Recompondo as paisagens
Que meu coração renega,

Pois sou homem – sou miragem.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

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