domingo, 18 de março de 2018

João Rosa de Castro - Amor Grátis

A CURA


Tons da vida
Sons dum corpo
Que se move
No infinito.
A noite chega
E ensombra o mundo.
A lua vem e ilumina.
O movimento das luzes artificiais
Anuncia a existência das cidades ao longe.

Tons da vida
Ecos do mundo
E os corações em sangue
Fazem os corpos quererem
O que ainda não se inventou.
Uns encontram a razão em si mesmos,
Outros assistem-na na TV
Como um fenômeno distante e inalcançável.
A liberdade é uma ilusão que flui
Como um rio que deságua no oceano
Para que os espíritos contemplem distantes,
Mas voltem para si próprios
Pois a própria existência é um alibi.

Tons da vida
Sons de cítara
Ritmos exemplares
Soltos numa imaginação de seres futuros.
Mãos, braços, corpos inteiros e a cura
Para os males mais imperceptíveis.


ALMA NUA

Alma Nua traz uma ode ao heroico ato que é permanecer nos cursos de letras, no qual se se apresenta de corpo e alma diante dos sentimentos.
Valeu muito a pena ter escrito “As mil e uma mortes”, num pequeno tratado da passagem, que tanto inquieta. E não só tratado, como também pacificação entre o homem e a morte, que pode não ser tão má assim, e além disso pode ser bem interessante.
Em “Enigma”, já adiantava o leitor para o que estava por vir. Trata da música de um grupo que aprendi a ouvir com um falecido amigo. Crítica da música contemporânea, numa coletânea de poesia, que fala diretamente com os músicos que a produzem, eis um prenúncio das manifestações do gosto.
No poema que dá nome ao livro, a alma nua não estranha “a visão imediata das mulheres” […] “nem suscita-lhe a surpresa a tardia razão dos homens.”. Foi um motivo de orgulho ter pensado coisas assim pouco antes de encerrar: “Os apocalipses na memória das formigas destroem os formigueiros”, exaltando os integrados, que produzem, e muito, antes do fim. Nada mais faz a alma rir. […] “O palhaço não consegue, nem com a ajuda de Baubo.”.
Um poema feliz é o que faz um elogio a João Ubaldo Ribeiro, em vida: “Itaparica”. A poesia dizia que o escritor sabia “tão bem o que perdemos com o que vimos ganhando e mesmo assim não lançava mão de saudosismo improfícuo”. Era o dono da “vontade pura”. Que a nossa saudade lhe seja leve, apesar de tanta.
Um poema menor e grandioso, que não posso menosprezar é Tereza Raquel, que apenas diz: “Cheirando rapé, descendo rapel e contando rafaéis.”. Mas depois de tantas perdas e danos, revivemos em “Recompondo a Alma”, que “cresce, da terra até ao sol, regendo alta sinfonia, velha do começo ao fim.”. E sua incursão pela poesia concreta. Belo livro.

O seu autor,

João Rosa de Castro.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...