domingo, 25 de março de 2018

João Rosa de Castro - Amor Grátis

HAVANA

Endoscopia no canibal estômago
Mamografia nas tetas da esperança
Injeção intravenosa no sangue global
Anestesia na gengiva impura e romântica de Hans
Histerectomia no ventre imoral da natureza
Vasectomia nos testículos de “Deus”
Lavagem intestinal na xenofobia
Benzetacil por conta das dores da América
Lobotomia no cérebro eletrônico de Bete
Biopsia no fígado adulterado de Carl
Colírio nas retinas de Cabral
Gesso no corpo inteiro de Joaquim
Sonda para a urina do rei não cair.
Eletrocardiograma no coração dos poetas.
E festa, festa no gueto pra disfarçar a miséria.


AMOR GRÁTIS

Depois pensei nos amores entre pessoas de mesmo sexo, nos amores de pessoas comprometidas, nos amores prostituídos e promíscuos e escrevi Amor Grátis.
“Vasectomia nos testículos de Deus, lobotomia no cérebro eletrônico de Bete, eletrocardiograma no coração dos poetas, e festa, festa no gueto pra disfarçar a miséria.”. Tempos modernos, na “Havana” do Amor Grátis.
Em “Melancolia”, “quiçá uma carícia, quiçá um abraço, quiçá um beijo, quiçá um orgasmo seja o marco dos seus dias.” Este verso coloca a vida do sexo irregular como o novo promíscuo, ou seja, mais abjeto do que a luxúria que se usava no Brasil-colônia para a procriação.
N“O Lenço Perfumado”, “fascina o rico lenço enxovalhado, simbolizando um amor tão impossível. Até que o tempo surge e deixa só o lenço: leva o perfume e então no pano é só vontade.”, tenho a impressão das monarquias imponentes em que os soldados-cavaleiros desejavam as rainhas – as destinatárias - escravas dos leitos de seus reis.
“E dizemos em cruz o de pura libido” é um debate sobre muitos cristãos que usam da violência da cruz para valorizar o que não é tão edificante assim. O “Poema de Auto-Ajuda” chama a atenção para imagens desta espécie: […] “a solidão nos assusta, e procuramos os pares, os ímpares e os lugares, queremos ser populares, mas somos rara escultura […].”.
No poema do inefável, “Lobisomens”, temos um eco de Camilo Pessanha, com seus traços para censurar o censurável. Deixa apenas o que as épocas tentam, em vão, universalizar: “Ernesto e Amadeu se desejam sempre que podem. Transam a transa nojenta aos olhos do povo. Depois o desejo seca, e eles envelhecem como dois irmãos.”.

O seu autor,
João Rosa de Castro.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...