POEMA DE ALÉM-MARTE: AOS NAVEGANTES DO FUTURO
Para esquecer
todas as palavras alheias,
Ver, numa
tela, toda a literatura recriada,
No escuro do
próprio ser,
Onírico
cinema de cenas e sons,
Do pulsar do
próprio sangue.
Para
desprezar as acusações dos semáforos
De que é
preciso amor para parar no caminho.
Porque tudo o
que passa de um é uma ácida ilusão.
Um mais um
são uns abraçados no ar
Antes de
soltarem os paraquedas.
Para
purificar ainda mais ainda o que já está puro
Para as
manhãs de sol e céus sem nuvens.
A sexualidade
entre os pés e o solo (em choque)
Ultrajando as
morais e as mais morais das morais.
Rebolam-se,
requebram-se, balançam-se as saliências do corpo,
Os cabelos,
os braços, se rebolam. Arse ‘n’ boobs.
Para entender
todos os signos do blá-blá-blá
E fingir que
Zaratustra jaz nos vácuos.
Porque somos
só superstições,
Somos só
abstrações,
Só éteres,
Bolinhas de
sabão.
ENSAIOS
WILDE
Quando eu pesquisava sobre a sexualidade, o que me sucedeu
desde muito criança, algo que me chamava a atenção era a relação entre crianças
do mesmo sexo. Proibida sempre. Desejável sempre. Sempre polêmica.
Quando adolescente, lia os livros, ingênuo, e achava que se
no princípio não encontrasse a palavra “homossexualidade” ou correlatas, não
valeria a pena ler – era a minha pesquisa, o objeto da minha curiosidade.
Só depois de traduzir três ensaios de Oscar Wilde, do
inglês para o português, é que interrompi, por muito tempo minha pesquisa
sexual. Os ensaios são Caneta, Lápis e
Veneno; A Decadência do Mentir; e
A Alma do Homem Sob o Socialismo.
Apesar de andar sempre na minha individual campanha contra
os estrangeirismos, numa forma de proteger a produção brasileira, arrisquei
nessa tradução no afã de conhecer o tão falado dramaturgo e literato.
Como tradutor, temos de engolir absurdos. Temos de dizer o
contrário do que pensamos. Temos de ser fiéis e abandonar a beleza, muitas
vezes. Por outro lado, descobrimos muita coisa que pensávamos e sentíamos e de
que havíamos nos esquecido. Sabe quando escondemos um dinheiro grande,
esquecemo-lo, e no momento da miséria damos com ele? Traduzir também é isso!
Com Wilde, não encontrei nada sobre “homossexualidade”,
salvo pela experiência da própria vida que ele levou e pelo fim que teve, fim
miserando em Paris, como muitos fins.
Mas ele era macho! Os desejos que tinha, ingênuos como todo
desejo, não interferem em nada na grandiosidade de sua obra, a despeito da
defesa do socialismo.
Se eu for considerar uma conclusão para minha pequena
pesquisa sexual, que partiu da infância, terá sido a experiência com Oscar
Wilde.
O resultado do poder às avessas do dramaturgo foi a miséria.
A ruína foi o grand finale depois do
uso do poder de maneira desnorteada e desnorteante. A obra recebe o meu elogio,
porque toda obra merece. Mas o homem não terá minha defesa. Traduzi-o e sinto-o
na verdade um traidor.
A rainha Vitória teve razão com sua punição. A obra de
Oscar Wilde, sua sífilis, o modo como teve de deixar a mulher e os filhos, sua
pseudoliberdade foram prejudiciais a ele, à família, à época e ao mundo, quando
consideramos seu fim, semelhante a muitos fins sexualizados de nossos dias.
Vida longa à Vitória! A tradução dos ensaios dedico a ela e são uma defesa de
sua mão de ferro e de paz!
O seu autor,
João
Rosa de Castro