domingo, 29 de maio de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra

O VERÃO

Idônea identidade
Com números e endereços,
Eu aviso a hora do parto,
Estopim de carnaval.
Errônea virgindade,
Com dedos e impressões,
Eu chego na hora errada
Denunciando a passarada.
Pesquiso as jugulares
Sugadas pelo vampiro.
Renasço a cada março
E morro só fevereiro.
Eia o meu próprio vento
Movimenta eu-veleiro.
Remota intensidade,
Vocês são miniaturas,
E eu fico tão distante.
Mas passo sóis e auroras,
Passo chuvas e faunas,
Vestidas de fio-dental.
Eu chegando sou evento
Que nunca se evidencia.
Do outro lado há lencinho
Pois de longe todo mundo
É assim pequenininho.

domingo, 15 de maio de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra

A PRIMAVERA

Se as rosas te afligem, eu te darei violetas.
Se as violetas te assustam, eu te trarei margaridas.
Se as margaridas exaurirem, eu encomendo tulipas.
Se as tulipas te traírem, procurarei as orquídeas.
Se as orquídeas te cansarem, manifesto com lisianthus.
Se os lisianthus forem altos, busco os kalanchoes.
Se os kalanchoes não disserem, eu direi coisas com cravos.
Se os cravos se calarem, perceberei com papoulas.
Se as papoulas não sararem, vitórias régias te saram.
Se as vitórias não vencerem, eu falarei por crisântemos.
E se depois dos crisântemos,
E se depois das papoulas,
E se depois dos cravos,
E se depois dos kalanchoes,
E se depois dos lisianthus,
E se depois das orquídeas,
E se depois das tulipas,
E se depois das margaridas,
E se depois das violetas,
E se depois das rosas,
E se depois de ver um mundo verdejante ao seu redor com borboletas;
Se depois de cores espalhadas com perfume para ti, não creres ainda na minha existência certa, irei em pessoa para te visitar.

domingo, 8 de maio de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra

O INVERNO

Afasta a tua espada zonza.
Que minhas flechas deslizam.
Desvia o olhar temeroso
Que os dedos são para sentir.
Se temes a dor e o pão.
Se temes estranha unção.
És gente, és camaleão.
És folha em branco, e então?
Escrevo no chão com meus passos.
Escrevo e não apago, não.
Quem lê uma história, uma honra.
Não esquece, não esquece, não.
Eu sou quem começa e termina.
Às bordas do vil ribeirão.
Eu sopro o ardor dos teus olhos.
E apago de ti as esquinas.
Arranco das mãos tuas armas.
E torço para que fiques bom.
Eu sou o elixir esperado.
Eu sou coração e razão.
Afasta a espada sarada
Pois vejo ranhura nas naus.
Devolvo o moinho travado
E volto varrendo o quintal.
Eu sou o hálito gelado
Da boca do outro dragão.

domingo, 1 de maio de 2016

João Rosa de Castro - O Cio da Pedra

O OUTONO

Quando eu dou tchau
Ninguém dá oi.
Quando subo o morro
Todo mundo desce.
Se eu derrubo a flor
Quem a levanta é o Deus.
Eu a prova, o teste.
Eu a seca, o Oeste.
Eu labirinto campestre.
As pestes se foram
Sob as minhas mãos.
As dores sararam bastante
Ao som do meu perdão.
Eu, a madeira de lei.
Esta canção para vocês
É surda e surda, e surda é.
Quando eu choro em vão.
Quando eu entro em casa.
Quando eu vejo a roupa
Que você usava,
Chamo o meu amigo
Para consolá-lo.

João Rosa de Castro - Despedida - Encerramento do Blogue Lume d'Arena

Prezado leitor. É com imensa satisfação que venho expressar minha gratidão a todos que visitaram, leram, compartilharam e acompanharam o L...